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Para analistas, países árabes devem promover abertura para evitar revoltas

Especialistas dizem que revolta que derrubou presidente da Tunísia pode ter efeito dominó

Atualização:

 

TÚNIS - Líderes árabes devem promover uma distensão gradual que atenda a demandas da população, se quiserem evitar que os protestos que derrubaram o presidente da Tunísia provoquem um efeito dominó na região, opinam analistas ouvidos pela BBC Brasil. Especialistas afirmam que revoltas como as que estão eclodindo em Egito, Argélia, Iêmen e Jordânia demonstram que o mundo árabe precisa realizar reformas democráticas. No entanto, isso seria feito com governos aplicando reformas graduais. Analistas afirmam que a renúncia do presidente da Tunísia Zine al-Abidine Ben Ali, deflagrada por uma revolta popular, seria o principal gatilo dessas mudanças. "Os líderes árabes têm boas razões para estar com medo. O que aconteceu na Tunísia deixou muitos deles em pânico", diz o analista político independente tunisiano Sami Al-Buhairi. Segundo ele, há a possibilidade de que uma "intifada" (levante) semelhante à da Tunísia se espalhe pela região, o qeu seria um sinal de "uma nova e mais promissora era para o mundo árabe". "Pode haver, sim, mudanças na Argélia e no Egito, já que muitos países árabes têm problemas comuns aos da Tunísia. Mas a forma como se darão as mudanças muito provavelmente será direcionada pelos governos", diz Buhairi. Para Amr Hamzawy, diretor de pesquisa do Centro Carnegie para o Oriente Médio em Beirute, tentativas de derrubar regimes autoritários podem ganhar força rapidamente em vários países da região. "As populações podem usar slogans de democracia, direitos humanos e boa governança e forçar seus regimes a respeitar seus direitos sociais e econômicos básicos", diz o analista. "Diante de uma ampla revolta popular, eles podem impor uma forma mais democrática de governo em uma questão de semanas, viabilizando uma mudança suave que beneficiaria não somente os cidadãos, mas os próprios donos do poder." Nas últimas semanas, problemas como desemprego e preços altos de alimentos têm provocado protestos - reprimidos pelos governos - na Argélia e na Jordânia. "Governantes em Mauritânia, Líbia, Marrocos, Síria também estão apreensivos e temem ser os próximos. Os árabes vêm sendo reprimidos há muito tempo e estão ansiosos por mudanças", salienta Buhairi. Ele também opina que os governos árabes não poderão contar com os aliados ocidentais quando enfrentarem revoltas populares e estiverem com seus regimes ameaçados. "Nas horas decisivas, os governos ocidentais serão os primeiros a abandoná-los. Os governos árabes que contam com amizades no Ocidente devem lembrar do que ocorreu no Irã, em 1979, quando a Revolução Islâmica derrubou o regime do xá Reza Pahlevi." Mas Buhairi adverte para as particularidades dos movimentos em cada país. "Embora todos sofram de mazelas parecidas, como repressão política, desemprego e desigualdades sociais, cada país árabe tem uma estrutura governamental e forças de segurança diferentes e reagirá de forma diferente." Egito No Egito, ativistas mobilizaram pessoas em várias cidades do país para o que chamaram de "dia da revolta", exigindo a queda do governo e reformas democráticas. Amr Hamzawy explica que o Egito "não é a Tunísia", e que há diferenças fundamentais entre suas sociedades e governos. Segundo ele, a Tunísia possui uma classe média com certo nível de poder, mais educada e com maiores expectativas sociais, econômicas e políticas do que outras nações árabes. "A revolução na Tunísia foi essencialmente um levante da classe média", opina. Para ele, o Egito, como outros países árabes, possui um aparato de segurança maior que o da Tunísia para controlar os movimentos políticos com eficiência. "O Egito tem uma força militar mais alinhada com o governo, enquanto que os militares tunisianos se mantiveram fora da disputa, e isso foi determinante. Os exércitos egípcio, sírio e argelino têm ampla experiência em repressão e defesa dos regimes autoritários, e isso deve continuar no caso de amplas revoltas populares."

 

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