Para árabes, guerra é inevitável e trará prejuízos

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Por Agencia Estado
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Os árabes já consideram que a guerra no Iraque tornou-se inevitável, e que ela trará mais problemas para a região. Salama Ahmed Salama, um proeminente colunista no diário governista egípcio Al-Ahram, destacou numa entrevista que alguns governos árabes estão permitindo que os Estados Unidos usem seus territórios para possíveis ataques contra o Iraque, enquanto outros se opõem veementemente a qualquer ação militar contra outra nação árabe. "O mundo árabe ficará ainda mais dividido" como resultado da crise, adiantou Ahmed Salama. Mais de 250.000 soldados americanos e britânicos estão na região, muitos no deserto ao longo da fronteira kuwaitiano-iraquiana devido a um pacto de defesa fechado depois que os EUA lideraram uma coalizão internacional que forçou o Iraque a se retirar do Kuwait, na invasão de 1990. Outras tropas encontram-se em Bahrein, Jordânia, Arábia Saudita e Catar. O Egito prometeu que o Canal de Suez permanecerá aberto para navios de guerra dos EUA e aliados, que rumam para o Golfo Pérsico. Todos são países historicamente próximos a Washington e que têm de se equilibrar entre o desejo de manter essa importante relação estratégica e econômica e um forte sentimento antiguerra entre seus cidadãos. Hoje na Jordânia, o porta-voz da Frente da Ação Islâmica, Jamil Abu-Bakr, disse que, apesar de seu governo garantir que apenas "várias centenas" de tropas dos EUA estão no país para operar baterias antimísseis para proteger o reino de possíveis ataques iraquianos, seu grupo de oposição acredita que os soldados americanos no país sejam vários milhares. "Se isto for verdade, aumentará a distância entre o governo e seu povo, que rejeita completamente uma agressão", anteviu Abu-Bakr. O comandante da Força Aérea da Jordânia, falando hoje numa feira de armas nos Emirados Árabes Unidos, reconheceu que forças estrangeiras na região, "na busca bem-intencionada de segurança", contribuem para "uma sensação de insegurança e tensão entre nosso povo". O príncipe Faisal, o irmão mais novo do rei Abdullah, da Jordânia, acrescentou esperar que mais tropas estrangeiras serão trazidas para a região devido à crise iraquiana. Enquanto alguns países árabes têm visto maciças manifestações antiguerra, a participação tem sido menor em locais como Egito e Jordânia, onde autoridades têm demonstrado pouca tolerância com protestos que poderiam se virar contra o governo. A revolta árabe pode ser suprimida por enquanto, mas irá "aparecer depois de alguns anos em outras formas, como o islamismo ou extremismo", comentou o egípcio Salama. "Ela pode não se expressar no mesmo dia, no mesmo mês ou no mesmo ano, mas ela se aprofundará e fermentará". A cientista política kuwaitiana Massouma al-Mubarak lembrou acusações feitas por árabes uma década atrás, de que o Kuwait havia rompido as fileiras árabes ao buscar a proteção dos EUA. Ela disse que acusações semelhantes devem ser repetidas agora, mas que o Kuwait tem uma resposta pronta: que sua prioridade é sua própria segurança e estabilidade. E que outros países com menos razões para temer o Iraque estão fazendo cálculos similares. Além do fracasso político, os árabes temem que a guerra possa enfraquecer ainda mais suas economias. Autoridades da região já relataram uma grande queda no turismo e o cancelamento de feiras comerciais, regionais e internacionais. Sameer Ragab, um editor do diário egípcio pró-governista Al Gomhuria, escreveu hoje que a culpa é de Saddam, por não ter feito o suficiente para evitar uma guerra que pode jogar toda a região no caos. "O Egito tem defendido o caminho da paz, mas o presidente Saddam Hussein escolheu outra posição... Portanto, que o regime iraquiano arque com as conseqüências", disse Ragab, um confidente do presidente egípcio, Hosni Mubarak.

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