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Para contornar crise econômica, Maduro anuncia criação de criptomoeda venezuelana

Líder bolivariano diz que a moeda virtual 'Petro' será ancorada na riqueza petroleira, de gás e à existência de ouro e diamante para combater 'bloqueio financeiro' dos EUA; analistas veem possibilidades limitadas, apesar de país ser considerado paraíso do Bitcoin

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Por Redação
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CARACAS - O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou no domingo, 3, a criação do "Petro", uma moeda virtual apoiada na riqueza petroleira do país, para enfrentar o "bloqueio financeiro" dos Estados Unidos. A medida é uma tentativa de contornar os graves problemas de liquidez do país e a desvalorização do bolívar.

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"Quero anunciar que a Venezuela vai implementar um novo sistema de criptomoeda a partir das reservas de petróleo. A Venezuela vai criar uma criptomoeda, o Petro, para avançar em termos de soberania monetária, para fazer suas transações financeiras e vencer o bloqueio financeiro", disse Maduro em seu programa semanal de televisão.

Maduro aposta na criação de moeda virtual para atingir soberania monetária da Venezuela Foto: EFE/Prensa Miraflores

Além do petróleo, a nova moeda estará vinculada à riqueza de gás e à existência de ouro e diamante, indicou Maduro. "Isto vai nos permitir avançar em direção a novas formas de financiamento internacional para o desenvolvimento econômico e social do país", afirmou.

Nesse sentido, Maduro também anunciou a criação do observatório de "blockchain", uma tecnologia que busca a descentralização como medida de segurança através de bases de dados e registros distribuídas e compartilhadas, que possuem a função de criar um índice global para todas as transações que ocorrem em um determinado mercado. 

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Segundo Maduro, o observatório de "blockchain" ficará subordinado ao Ministério de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, e será "a base institucional, política e jurídica para a moeda virtual venezuelana".

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"Para implementar este observatório será formada uma equipe multidisciplinar de 50 pessoas (...). Propomos a formação de um equipe multidisciplinar de especialistas nas áreas de tecnologia, economia, finanças, jurídica, monetária, midiática, entre outras", explicou Maduro.

O chefe de Estado disse que ouvirá as propostas da Associação Nacional de Criptomoedas que, segundo um de seus integrantes, acredita no desaparecimento do dinheiro fiduciário no futuro e propõe ao Estado venezuelano realizar a venda de petróleo através do Petro.

O anúncio chega em um momento em que a Venezuela enfrenta sérios problemas de financiamento, depois de que um grupo de detentores de bônus e agências de classificação de risco declarou o país, junto com sua petroleira PDVSA, em default parcial devido ao atraso em pagamentos de capital e juros de títulos da dívida.

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Maduro atribui as dificuldades às sanções impostas pelos Estados Unidos em agosto, que proíbem cidadãos e empresas desse país de negociarem novas dívidas emitidas pelo governo e pela PDVSA.

Em meio à grave crise no país pela queda dos preços e da produção de petróleo, a moeda venezuelana, o bolívar, sofreu uma desvalorização de 95,5% ante o dólar paralelo no último ano.

Possibilidades limitadas

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Apesar de o presidente venezuelano não ter dado mais detalhes sobre sua criptomoeda, analistas como Henkel García veem a iniciativa como um esforço de possibilidades limitadas em razão da pouca confiança inspirada pela economia do país.

"(O sistema) pode até ser criado, mas a confiança, a aceitação e o uso são os fatores que vão determinar o êxito da criptomoeda. Para mim, será bastante limitado. O bolívar também é respaldado nas reservas (de petróleo) e não tem força", disse García, diretor da consultoria Econométrica.

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"A confiança em um país depende dos níveis de produção e da riqueza que ele gera. Por exemplo, as pessoas confiam no dólar em razão dos níveis de riqueza associados à essa moeda", completou.

Paraíso do Bitcoin

A questão das moedas virtuais não é nova na Venezuela, considerada pelos especialistas como um paraíso para a produção de Bitcoins em razão dos baixíssimos custos de energia elétrica.

Estima-se que dezenas de milhares de pessoas realizem esta atividade no país para se proteger da inflação, já que podem trocar seu lucro por dólares ou por mais Bitcoins.

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Rei das criptomoedas, o Bitcoin atingiu na semana passada o valor de US$ 11 mil por unidade, continuando uma espetacular escalada que multiplicou por dez o seu valor em um ano - o que, por outro lado, semeia medo de que a moeda esteja em uma bolha.

A moeda virtual foi criada em 2009 e tem como base uma tecnologia criada por um engenheiro conhecido pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto, cuja identidade real é desconhecida. O sistema, global e descentralizado, permite transações diretas entre usuários, sem intermediários, que ficam registradas numa base de dados pública.

Na Venezuela, a lei não proíbe expressamente a mineração de Bitcoin, mas as autoridades perseguem quem o faz por roubo de energia. Segundo analistas, no entanto, vários funcionários do governo estão envolvidos nesta atividade, que consiste em operações matemáticas que verificam a validade de transações em Bitcoin com o uso de poderosos computadores.

As máquinas são recompensadas com Bitcoins que podem ser trocados por dólares, por outras criptomoedas, por cartões presentes ou por bolívares - a opção menos interessante no momento. / AFP e EFE

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