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Para embaixador palestino, Netanyahu quer permanecer no poder a qualquer preço; leia artigo

'Israel tem um plano inicial, desde antes de sua existência enquanto Estado, promovido à força: tomar toda a Palestina, com a menor população palestina, ou mesmo sem nenhum palestino'

Por Ibrahim Alzeben
Atualização:

Israel tem um plano inicial, desde antes de sua existência enquanto Estado, promovido à força: tomar toda a Palestina, com a menor população palestina, ou mesmo sem nenhum palestino. Então, podemos enquadrar a atual situação neste cenário geral permanente, que é uma política oficial, nunca escondida, especialmente de seus protetores. Mas hoje podemos dizer que Israel agravou a situação em Jerusalém (em Sheikh Jarrah e na mesquita de Al-Aqsa) e em Gaza para alcançar objetivos políticos internos, regionais e internacionais.

Manifestantes palestinos montam barricadas, durante protesto contra forças israelenses, em Nablus, na Cisjordânia. Foto: Ammar Awad / Reuters 

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No nível doméstico, Binyamin Netanyahu tentou se reorganizar, mexendo as cartas e manipulando suas alianças para encobrir seu fracasso na formação de um governo viável e para fugir das investigações de corrupção e dos julgamentos que o aguardam, utilizando o sangue palestino. Tudo o que Netanyahu fez foi para tentar paralisar seus oponentes, desviar a atenção do público israelense de seu julgamento e superar as manifestações que exigem sua renúncia. E assim segue sendo.

As apostas políticas de Netanyahu ultrapassam fronteiras, tal qual suas agressões bélicas. Quanto à Palestina, ele pretende enfraquecer as forças políticas e seguir a narrativa já cansativa de mostrá-las como agressores e terroristas. Além disso, renova o bloqueio às saídas negociadas sob o pretexto infundado de que a Autoridade Palestina não pode se sentar às mesas de negociação por não representar a população palestina residente na Faixa de Gaza. O bloqueio às eleições palestinas é parte desta estratégia.

Na cena regional, o primeiro endereço das intenções israelenses é a Jordânia e a mensagem é clara: Israel é que tem a custódia de Jerusalém, inclusive de seus sítios sagrados, como a Esplanada das Mesquitas e a Igreja do Santo Sepulcro. E, numa escala regional mais ampla, transmite mensagem aos países árabes de que a continuidade do processo de normalização não se vincula à resolução da questão palestina, o que faz ruir o discurso público que justificava estas iniciativas, conforme as apresentava o ex-presidente dos EUA Donald Trump, de que facilitariam uma solução pacífica que levaria à criação de um Estado palestino, versão contestada pela liderança palestina.

No plano internacional, a mensagem seria de que Israel não tem medo do Tribunal Penal Internacional ou do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Há também um recado aos EUA e ao governo de Joe Biden para que não ousem desafiar Israel. A extensão da violência usada pelos israelenses em Gaza, Jerusalém e na Cisjordânia reflete um Estado de fraqueza, porque é vingança e retaliação.

A explosão popular palestina dentro de Israel reflete o fracasso de suas estimativas, para não mencionar o fracasso de suas avaliações quanto ao valor que a mesquita de Al-Aqsa tem na consciência palestina. Ele subestimou a capacidade e determinação do povo palestino em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém. Tudo indica que Netanyahu seguirá com a escalada da violência até cumprir seu objetivo: permanecer no comando do governo, não importa a qual preço. Mas o mundo pode deter a catástrofe.

*EMBAIXADOR DO ESTADO DA PALESTINA NO BRASIL

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