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Como Putin contra-ataca para impedir avanço da Otan para o Leste Europeu

A reinvenção da Otan após a Guerra Fria e a resposta russa à expansão militar do Ocidente

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Por Cristiano Dias
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A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança defensiva criada em 1949, é um símbolo da ordem internacional do pós-guerra e um dos marcos da Guerra Fria. O objetivo principal foi definido pelo primeiro secretário-geral, o britânico Hastings Ismay: "Manter os americanos dentro (da Europa), os russos fora e os alemães sob controle". 

A alma da Otan está no Artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte: "Um ataque armado contra um ou mais países-membros será considerado uma agressão contra todos", uma disposição legal que se tornou referência do direito de defesa coletiva. 

Em 17 de setembro de 1949 foi realizada em Washington, nos EUA, a primeira sessão do Conselho de Relações Exteriores da Otan Foto: EFE/NATO

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A concepção do célebre Artigo 5º da Otan, contudo, não é original. Ela foi inspirada no Tratado do Rio de Janeiro, assinado dois anos antes, em 1947, que criou o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar) -- que hoje vem sendo utilizado pela oposição venezuelana para isolar o regime chavista de Nicolás Maduro.

Na maior parte de seus 70 anos de existência, a Otan teve sua nêmese: o Pacto de Varsóvia, a coalizão militar socialista. Por meio século, os dois blocos mantiveram o mundo em profundo suspense com a troca de ameaças e o risco de extinção nuclear. A aliança soviética, no entanto, surgiu apenas em 1955, em resposta direta à incorporação da Alemanha Ocidental como membro da Otan -- e não em represália à fundação da aliança atlântica em si. Em março de 1966, a Otan viveu sua primeira grande ruptura, protagonizada pelo governo nacionalista de Charles de Gaulle, reeleito presidente três meses antes. Em uma cartada para relançar sua política externa e recuperar a soberania francesa sobre seu território, ainda ocupado por tropas americanas, o general retirou o país do comando militar integrado da aliança atlântica. No ano seguinte, os EUA foram obrigados a repatriar 27 mil soldados e 37 mil funcionários de 30 bases áreas e navais da França.

Após o fim da Guerra Fria e o colapso da União Soviética, a Otan perdeu sua razão de ser, as se recusou a morrer. Segundo Margaret Thatcher, então primeira-ministra britânica, "não se cancela a apólice de seguro de sua casa só porque foram registrados menos assaltos nos últimos 12 meses". A aliança, no entanto, teve de se reinventar. E encontrou novas missões.

Aos poucos, a Otan adquiriu um objetivo político, de defender os valores ocidentais, de organizar missões de paz e de trabalhar contra a proliferação de armas de destruição em massa. A aliança militar foi crucial na guerra civil iugoslava, nos anos 90, e se expandiu, incorporando ex-repúblicas soviéticas e países do Leste da Europa -- e é extamente neste momento que a Rússia ressurge.

Após um período pós-soviético de turbulência, quando o país se desintegrou e chegou ao fundo do poço nas mãos de Bóris Yeltsin, a Rússia ressurgiu sob o comando de Vladimir Putin, um ex-agente da KGB, o serviço secreto da União Soviética. Desde que assumiu o Kremlin, em maio de 2000, ele tem uma missão: recuperar o prestígio russo no cenário internacional. E uma das frentes de batalha era conter o avanço da Otan. Desde então, Moscou trabalha incessantemente para impedir o avanço da aliança atlântica em sua antiga zona de influência. A julgar pelos desentendimentos explícitos na cúpula de Londres, a política externa de Putin vem sendo bem sucedida.

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