Para linguista, discurso de Obama sobre Bin Laden foi 'obra prima'

Na opinião de Inés Olza, presidente americano acertou ao atingir diretamente a emoção dos americanos em fala

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Por Bruna Ribeiro
Atualização:

SÃO PAULO - Barack Obama teve um surgimento quase meteórico na política norte-americana. De senador pelo Estado de Illinois, ele foi ganhando popularidade nas prévias de 2008, com discursos inflamados e o despertar de um sentimento de mudança e esperança na população. A candidatura dele foi formalizada pela Convenção do Partido Democrata em 28 de agosto do mesmo ano e, em 2009, ele se tornou o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.

 

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Até mesmo em tempos de crise, não é incomum ouvir comentários sobre o carisma e a popularidade de Obama, em partes conquistados por uma impressionante retórica. O discurso em que ele anunciou a morte de Osama bin Laden foi uma das falas históricas do presidente. "Em meus estudos, eu avaliei que foi uma obra-prima", disse ao estadão.com.br a linguista espanhola Inés Olza, do grupo de Análise do Discurso da Universidade de Navarra, em Pamplona, um ano depois do anúncio da morte do terrorista. Leia trechos da entrevista.

 

estadão.com.br: Como a sra. avalia a retórica de Obama no discurso depois da morte de Bin Laden, há um ano?

 

Inés Olza: Em meus estudos, eu avaliei que foi uma obra prima de retórica. Eu diria que foi um discurso muito bem construído e efetivo.

 

estadão.com.br: Na sua opinião, qual foi a intenção dele ao lembrar do 11 de Setembro?

 

Inés Olza: Há algumas razões. A primeira é que Bin Laden se tornou um inimigo oficial dos EUA no 11 de Setembro. Então se ele é um inimigo oficial, esta é uma boa razão para tentar atacá-lo e matá-lo, como os militares americanos fizeram no local onde ele estava com a família, no Paquistão.

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Além disso, Obama quis fazer um discurso agressivo para os EUA e para o mundo. Ele diz no começo: "Eu posso dizer ao povo dos Estados Unidos e também ao mundo que nós matamos Bin Laden". Ele falou do 11 de Setembro para as pessoas do país se lembrarem da situação. Ele representou o ataque dizendo: "Vocês se lembram dos aviões batendo nas Torres Gêmeas e todas as pessoas que morreram?". Ele tentou trazer de volta essas imagens à nossa mente. Então a morte de Bin Laden se tornou justificada e legitimada.

 

estadão.com.br: Qual sentimento a sra. acha que o discurso causou no povo americano?

 

Inés Olza: Eu diria que o sentimento geral foi de que "a justiça foi feita". Uma das mais importantes abordagens do discurso dele foi justamente essa. Então, de certa forma, foi um sentimento de orgulho nacional, por tropas militares serem capazes de irem ao Paquistão e matarem Bin Laden.

 

A morte é apresentada de uma forma sem muitas explicações, porque eles não discutem como as coisas aconteceram. Eles apenas dizem que foi um tipo de confronto, mas nós não sabemos como isso aconteceu exatamente.

 

estadão.com.br: A sra. acha que Obama atingiu o objetivo dele de comover a população em seu discurso?

 

Inés Olza: Eu acho que sim. Ele tem um discurso muito bom, porque ele foi capaz de atingir diretamente a emoção. Então o tipo de argumentos que ele usou foi emocional. Nesse sentido, como especialista, eu diria que foi um bom discurso não por conta de uma argumentação racional ou lógica, mas porque ele traçou uma estratégia para atingir as emoções das pessoas. Eu acho que ele teve muito sucesso no final.

 

estadão.com.br: O vice-presidente americano, Joe Biden, citou a morte de Bin Laden em um discurso, na última semana, como parte das conquistas de Barack Obama e apontou isso como um motivo para não votar no republicano Mitt Romney. Como a sra. acha que a morte de Bin Laden vai ser usada nos discursos na campanha para as eleições americanas deste ano?

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Inés Olza: Eu não tenho certeza se Obama vai usar novamente a morte de Bin Laden. Acho que ele usou isso em seu discurso há um ano corretamente como uma conquista. Mas essa busca também começou pela oposição.

 

Então é uma conquista dos EUA em geral e não apenas do partido dele. Eu acho que ele vai usar conquistas mais gerais dos EUA. Acho que ele vai discursar sobre os principais problemas e preocupações do povo americano, como a economia e questões sociais.

 

estadão.com.br: E a sra. acha que Obama tem uma boa retórica?

 

Inés Olza: Sim, sim, sim, sim, sim! Ele é o mestre! É absolutamente um mestre. Eu analiso os textos em si, transcritos, mas se você olhar para os vídeos dos discursos, você vai ver que ele tem uma retórica perfeita. Ele olha concentradamente para a câmera, tem um discurso muito calmo e pausado e sabe enfatizar as partes mais importantes. Tudo na imagem da performance dele é perfeito. Ele é muito bom!

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