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Para Lula, Fidel é mito vivo da história

Presidente brasileiro diz que cabe agora ao povo cubano decidir qual será o futuro de seu sistema político

Por Clarissa Oliveira e VITÓRIA
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que, mesmo com sua renúncia, o líder cubano Fidel Castro segue sua trajetória como "o único mito vivo da história da humanidade". Sem esconder a emoção - ao lembrar da amizade com Fidel e de sua identificação com a revolução cubana - Lula disse que agora cabe ao povo cubano decidir qual será o futuro de seu sistema político. "Fidel é o único mito vivo da história da humanidade e acho que ele construiu isso à custa de muita competência, muito caráter, muita força de vontade e também de muitas divergências, ou seja, muita polêmica", disse o presidente, que se encontrava ontem no Espírito Santo. O presidente não quis fazer comentários sobre possíveis mudanças políticas em Cuba. Disse que cada povo deve decidir qual será seu regime político: "Vamos deixar que os cubanos cuidem do que eles querem na política e vamos cuidar do que nós precisamos aqui no Brasil." E aproveitou para mandar um recado para o governo americano: "Acho que os cubanos têm maturidade para resolver todos os seus problemas, sem precisar de ingerências, nem brasileiras, nem americanas." Na avaliação de Lula, o fato de Fidel ter tomado a decisão de se afastar permite que todo o processo de transição do governo transcorra de forma tranqüila. "O Brasil está satisfeito. Que seja assim, um processo muito tranqüilo. O que nós temíamos era uma situação adversa, que isso acontecesse em um sistema turbulento, em que os cubanos de Miami tentassem achar que já era dia de voltar para Cuba e transformar Cuba num território de conflito", afirmou. ELOGIOS O presidente aproveitou para elogiar o irmão de Fidel, Raúl, que comanda o governo interinamente desde 2006. Disse que comanda as Forças Armadas desde a tomada do poder pelos revolucionários, como muita experiência e "uma visão de mundo muito importante." Lula disse ainda que já esperava a renúncia desde sua visita a Cuba, no começo do ano. "Senti que o Fidel estava analisando a situação política e querendo criar as condições para que isso pudesse acontecer." Ao comentar que Fidel escreveu quatro artigos no jornal comunista Granma sobre o encontro que tiveram, Lula lembrou a amizade de 23 anos com o líder cubano. "Sou da geração que se transformou em amante da revolução cubana", acrescentou. Emocionado, Lula lembrou o apoio que recebeu de Fidel em 1982, após sua derrota na disputa para o governo de São Paulo, quando recebeu apenas 1,25 milhão de votos. O cubano teria perguntado a eles quantos operários no mundo atingiram uma marca como aquela nas urnas: "Eu, que me achava o mais derrotado do mundo, me senti o mais importante." Em Brasília, o chanceler, Celso Amorim, disse ontem que a renúncia do líder cubano Fidel Castro não altera as relações entre os dois países. O Brasil manterá sua "atitude de engajamento e o seu bom relacionamento" com Havana, afirmou o chanceler. O presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP) observou que a renúncia indica que a transição do poder em Cuba está sendo feita de forma tranqüila. "Fidel é uma figura central e continuará sendo. Ele está produzindo a transição em vida", disse o deputado. COLABORARAM DENISE CHRISPIM MARIN E DENISE MADUEÑO

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