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Para ministro iraquiano, armas são pretexto para a guerra

Por Agencia Estado
Atualização:

O Iraque já eliminou todas as suas armas de destruição em massa, e os serviços secretos americano e britânico sabem disso. A afirmação é do ministro do Comércio iraquiano, Mohammed Mahdi Saleh. "O objetivo deles não é acabar com essas armas, mas usar isso como um pretexto para ocupar o Iraque e seus campos de petróleo", disse hoje Saleh, que chegou ontem a Amã, onde deve ficar até domingo. Segundo o ministro, os inspetores de armas da ONU estavam espionando para a CIA e o Mossad (serviço secreto israelense) em 1998, quando foram expulsos do Iraque. "Os EUA e a Grã-Bretanha continuam a pressionar para que os inspetores realizem atividades fora do escopo das resoluções do Conselho de Segurança, como a espionagem." Saleh disse que, em seu último relatório, os inspetores-chefes da ONU, Hans Blix e Mohammed el-Baradei, assinalaram que "o trabalho estava indo bem" e pediram "alguns meses, não algumas semanas ou alguns anos", para concluí-lo. "Se eles realmente querem o cumprimento da Resolução 1.441, por que não deixam os inspetores trabalharem?" perguntou o ministro. Como o verdadeiro objetivo dos EUA e da Grã-Bretanha, o de mudar o regime, não está contemplado pela Resolução 1.441, eles querem aprovar nova resolução, abrindo caminho para a guerra, argumentou o ministro. "A França, a Rússia e a China sabem que é um pretexto para a agressão militar, e por isso não querem a nova resolução. O Iraque não se coloca sob o guarda-chuva dos EUA e da Grã-Bretanha e por isso se tornou um inimigo para os governos desses dois países", analisou Saleh. O ministro lembrou que, em 1972, o governo iraquiano nacionalizou a exploração de petróleo, que era controlada por companhias americanas e britânicas desde os anos 20. "O Iraque tem uma política de petróleo independente, não arbitrária, tratando todos os países de forma igual, seja a ex-União Soviética ou o Ocidente, e isso não interessa aos EUA e à Grã-Bretanha." Por outro lado, o ministro lembrou também que Iraque e EUA eram aliados. Antes do embargo comercial imposto pela ONU por causa da invasão do Kuwait pelo Iraque, em agosto de 1990, o governo de George Bush pai estava tentando obter mais de US$ 5 bilhões em contratos de exploração de petróleo para companhias americanas, afirmou o ministro. "Desde que não haja intervenção (militar), não há motivo para não reatar essas relações", ofereceu Saleh, que na quinta-feira à noite se reuniu com o rei Abdullah II da Jordânia. O ministro reiterou o pedido, feito no início da semana pelo presidente Saddam Hussein, para que a ONU ponha fim ao embargo que, segundo ele, impediu o Iraque de exportar US$ 200 bilhões em petróleo nesses 13 anos. "A agressão militar de 1991 (a operação militar liderada pelos EUA para expulsar o Iraque do Kuwait) destruiu amplamente a infra-estrutura do país." Segundo ele, com a venda de petróleo restrita para comprar comida e remédios, autorizada pela ONU, o Iraque tem sido capaz de reservar algum dinheiro para a recuperação dessa infra-estrutura, mas não o suficiente para reativar a indústria e criar empregos. "Não podemos oferecer serviços adequados para a indústria, agricultura, transportes, moradia, eletricidade, etc.", enumerou Saleh. "Devolver ao país uma vida normal requer enormes investimentos." Para Saleh, depois de 13 anos de sanções, os EUA e a Grã-Bretanha "descobriram que o vínculo entre o povo iraquiano e Sua Excelência o presidente Saddam Hussein são fortes demais, que ele não tem inimigos dentro do país". Assim, "só por meio da guerra" os dois países poderiam perseguir seu objetivo. O ministro garantiu, no entanto, que o Iraque vem se preparando há muito tempo e está pronto para a guerra. "Você se sentirá mais seguro lá do que aqui", garantiu Saleh, descrevendo a situação em Bagdá como "calma", apesar dos preparativos para a guerra iminente.

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