Para a Organização das Nações Unidas, a falta de uma resposta dos governos europeus sobre os acidentes com imigrantes vem da preocupação de políticos com as eleições. "A retórica dos políticos tem sido extrema e muito irresponsável", declarou Laurens Jolles, representante do Alto Comissariado da ONU para Refugiados na Itália.
O Mar Mediterrâneo vive seu pior acidente envolvendo imigrantes e o desaparecimento de cerca de 700 pessoas mergulha a Europa em uma crise política. Na noite entre sábado e domingo, um velho pesqueiro de 30 metros que cruzava o mar com imigrantes irregulares naufragou e, por enquanto, apenas 28 pessoas foram resgatadas com vida.
Na Itália e no Reino Unido, eleições nas próximas semanas tem sido dominadas pelo assunto da imigração, com partidos de extrema-direita prometendo frear o fluxo, um discurso que tem sido acolhido por parte da sociedade. "Por conta de eleições e da crise econômica, tem sido mais difícil para partidos que tradicionalmente não tem seguido essa linha conter a retórica", disse. "O medo dos estrangeiros está sendo explorado por motivos populistas", alertou.
Ontem, um dos impactos do acidente foi sentido justamente em Londres, com o Partido Trabalhista usando a ocasião para criticar o primeiro-ministro David Cameron, 20 dias antes das eleições gerais.
Na Itália, o debate também ganhou conotação eleitoral. Matteo Salvini, líder da Liga Norte de extrema-direita, defendeu um " bloqueio naval contra os barcos que saiam da Líbia ". Daniela Santanche, representante do Forza Italia, partido de Silvio Berlusconi, defendeu que " todos os barcos sejam afundados " pela marinha italiana.
Mas a ONU voltou a apelar para que o bloco volte a estabelecer operações de resgate, como a que existia em 2014. O programa conhecido como Mare Nostrum chegou a resgatar 100 mil imigrantes no ano passado. "Pedimos que governos adotem uma operação robusta de resgate", declarou o alto comissário de Refugiados das Nações Unidas, Antonio Guterres.
"Chegou o momento de colocar a humanidade sobre a política", pediu Justin Forsyth, chefe da entidade Save the Children. "O que ocorre no mar não é um acidente. Mas o resultado direto de nossa política".
Para a Organização Internacional de Migrações (OIM), se o atual ritmo de aumento de mortes entre imigrantes no Mar Mediterrâneo continuar como nos primeiros três meses do ano, mais de 30 mil pessoas poderão morrer em 2015 tentando cruzar o mar em direção à Europa.
Apenas nesta semana, a Guarda Costeira da Itália resgatou 13 mil pessoas. No total, a ONU apontou que 35 mil imigrantes cruzaram o mar desde o início do ano. Em 2014, foram 220 mil pessoas cruzando o mar e 3,5 mil mortes.