Para premiê turco, pedidos de abertura de fronteiras são ‘hipócritas’

Ahmet Davutoglu afirma que as pessoas pedem à Turquia que abra as fronteiras mas não exigem que a Rússia pare com seus ataques no território sírio

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Por Redação
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HAIA - O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, qualificou na quarta-feira de "hipócritas" os pedidos para a abertura de suas fronteiras aos milhares de refugiados sírios que fogem da ofensiva do regime, apoiado pela Rússia, contra os rebeldes em Alepo.

"Creio que seja uma hipocrisia que alguns digam à Turquia que 'abra suas fronteiras' quando não dizem para a Rússia que 'já chega'", afirmou Davutoglu durante uma visita à cidade de Haia, onde seria entrevistado junto a seu colega holandês Mark Rutte.

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Segundo a Organização das Nações Unidas, aproximadamente 31 mil sírios, sendo 80% mulheres e crianças, fugiram da região de Alepo em direção à fronteira turca desde que o regime sírio, com o apoio da aviação russa, lançou uma ofensiva no dia 1º de fevereiro.

A ONU e vários países pediram à Turquia que abrisse sua fronteira aos refugiados civis, que lotam os campos de deslocados no norte da Síria. Mas apesar das solicitações da comunidade internacional, Ancara mantém fechado o posto fronteiriço de Oncupinar, única passagem acessível entre o país e o norte da província de Alepo.

A Turquia se transformou na principal rota para refugiados sírios, afegãos, eritreus e de outras nacionalidades, muitos dos quais tentam, em seguida, uma arriscada travessia marítima até a Grécia. Os turcos acolheram até agora 2,7 milhões de pessoas, em sua maioria sírios, nos acampamentos de refugiados.

Dever humanitário

A França e a Grã-Bretanha exigiram na quarta-feira que a Rússia cesse seus bombardeios a Alepo e que o regime sírio permita um acesso mais fácil de sua população à ajuda humanitária, antes de uma sessão do Conselho de Segurança da ONU.

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"O regime e seus aliados devem respeitar suas obrigações humanitárias: deter os bombardeios cegos, suspender os cercos (às cidades sírias) e aceitar um acesso humanitário total", afirmou o embaixador francês na ONU, François Delattre.

"Não é um favor o que pedimos, é uma obrigação absoluta com o direito internacional", disse o diplomata antes de consultas a portas fechadas no Conselho de Segurança sobre a situação humanitária na Síria, na véspera de uma Conferência Internacional em Munique (Alemanha).

Moscou anunciou a intenção de apresentar propostas sobre um eventual cessar-fogo, mas seu embaixador na ONU, Vitali Churkin, se negou a dar qualquer informação à imprensa. "Vamos continuar promovendo uma solução política, uma rápida retomada das negociações" entre as facções sírias, disse.

"É o que vamos fazer em Munique", acrescentou Churkin, que acusou as potências ocidentais de "explorar politicamente" a crise humanitária na Síria. "Não vamos nos desculpar pelo que fazemos", afirmou, acrescentando que a campanha militar russa se faz "de forma muito transparente".

A sessão do Conselho foi solicitada pela Nova Zelândia e pela Espanha para tratar do destino de milhares de refugiados sírios, provenientes de Alepo e bloqueados na fronteira turca. Segundo diplomatas, não se espera nenhuma declaração após a reunião.

O embaixador britânico Matthew Rycroft disse esperar "uma resposta adequada da Rússia com as preocupações" sobre a situação humanitária durante a conferência de Munique nesta quinta-feira, 11, que reunirá 17 países do Grupo Internacional de Apoio à Síria. /AFP e EFE

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