22 de agosto de 2010 | 00h00
O 2.º sargento Lucas Trammell, canhoneiro de tanque da 3.ª Divisão de Infantaria, participou dos combates que culminaram com a tomada de Bagdá em 2003. Ele voltou ao Iraque em 2005, trocando o tanque pelas patrulhas a pé numa Ramadi extremamente perigosa, e novamente em 2007, servindo como guarda-costas de um comandante em Bagdá.
Ele abateu o inimigo e perdeu companheiros. Procurou tratamento para o distúrbio de stress pós-traumático. Ele voltou para o Iraque pela quarta vez, como parte de uma força de apenas 50 mil homens que não deverá mais se envolver em combates a partir de 31 de agosto.
Trammell é um dentre os milhares de soldados e oficiais para quem o legado do Iraque, como o do Afeganistão, representou uma redefinição do significado de ser um americano envolvido numa guerra atual.
A 3.ª Divisão de Infantaria passou mais de quatro anos participando de uma guerra que durou sete anos e meio - e pode ainda não ter chegado ao fim. Muito mais do que os outros americanos, estes soldados suportam o fardo pessoal e profissional de um conflito que perdeu o pouco apoio popular doméstico de que dispunha.
Para aqueles envolvidos nos combates, a guerra no Iraque não é uma causa gloriosa nem uma aventura, conforme anunciado pela antiga publicidade do Exército. Atualmente, a guerra não é nem mesmo um tema polêmico capaz de dividir o país, como foi com o Vietnã. Ela é um trabalho.
Mesmo com o término formal das operações de combate, marcado para este mês, trata-se de um trabalho que ainda não foi terminado - 50 mil soldados permanecerão no Iraque por mais um ano, no mínimo - e um trabalho que, como tantos outros, inspira grandes emoções somente entre aqueles que o desempenham.
"Em casa, muitas pessoas estão cansadas disto", disse o 2.º sargento Trevino D. Lewis, sentado do lado de fora de uma sala de ginástica em Camp Liberty, a empoeirada que fica perto do aeroporto de Bagdá. Ele estava se referindo a um comentário feito por muitos soldados: em casa, as pessoas podem desviar o foco do conflito; eles, não.
"Eu encaro a guerra como se fosse meu emprego", disse ele, recontando e desconstruindo a progressão entre as diferentes justificativas para a guerra, desde as armas de destruição em massa que nunca existiram até o estabelecimento da democracia no mundo árabe, passando pela deposição de Saddam Hussein. "Estamos falando da minha carreira."
Entre os que servem no Iraque, o sentimento de estar cumprindo o dever, ainda forte, é relativizado pelo fato de que a guerra está lentamente perdendo intensidade - ou se esgotando, nas palavras de um oficial - com resultados ambíguos.
A invasão deixou como legado uma democracia instalada numa região do mundo conhecida pela autocracia, mas este governo é jovem, enfrenta dificuldades e detém um controle vacilante sobre sua segurança e seu destino.
"Se eu acho que as crianças que correm pelas ruas daqui terão um futuro melhor agora?", disse o sargento Trammell certa noite. "Francamente, não me importo com isso", disse. "Enquanto país, qual é a coisa certa a se fazer? No fim do dia, quando faço uma avaliação de nossa missão, percebo que não perdi nenhum soldado do meu esquadrão. Para mim, é isso o que importa." Para os soldados, a guerra virou uma rotina. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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