Para trabalhar, taxista é obrigado a fugir da polícia

Apesar das reformas tímidas de Raúl Castro, família de Juan Carlos ainda vive de bicos e roupas doadas

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Por Redação
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Como efeito das reformas que permitiram alguma atividade privada no setor de serviços, entre 1993 e 1995, Juan Carlos, que então já trabalhava como taxista, recorda de um período de relativa bonança em Cuba até 2004. A partir desse ano, a economia passou a crescer mais, impulsionada pela ajuda da Venezuela de Hugo Chávez. Mas, com a folga dada pelos petrodólares venezuelanos, o regime enrijeceu de novo o controle sobre as atividades privadas. Muitos "paladares" - os pequenos restaurantes - foram fechados, assim como outros serviços. Sem licença para ser taxista, Juan Carlos perdeu passageiros e mobilidade, com a polícia por toda parte. Hoje, tira US$ 62,50 por mês. Ele, a mulher, a filha de 20 anos e o filho de 11 vestem roupas doadas por um casal espanhol que se tornou amigo da família e vem visitá-los quase todos os anos. Ele trocou a casa que herdara do irmão - que trabalhava na Marinha Mercante e fugiu para o Canadá - por um apartamento, pagando uma diferença de US$ 5 mil que os espanhóis lhe deram. Quando vêm visitá-los, todos os anos, hospedam-se lá. "Eles são nossa salvação", diz Juan Carlos. Sua filha estuda informática na universidade e dá aulas em um telecentro. Nem ela nem seus alunos podem navegar na internet. Têm acesso apenas ao correio eletrônico. A "abertura" anunciada pelo presidente Raúl Castro nessa área resultou em conexões discadas de internet a preços proibitivos para os cubanos comuns. Um pacote de 80 horas por mês custa US$ 75; a conexão ilimitada US$ 625. Pelo menos acabou a proibição de ter computador em casa. Quando sua filha tinha 16 anos, Juan Carlos lhe deu um computador de contrabando. No ano passado, ela pôde comprar legalmente um computador chinês. O celular também se tornou mais acessível no governo de Raúl, que assumiu em julho de 2006, depois que seu irmão Fidel ficou doente, e foi formalizado no cargo em fevereiro. Clandestinamente, Juan Carlos tinha um aparelho celular desde 2005 (presente dos espanhóis). Esse ainda é um luxo distante para muitos. A linha custa US$ 62,50 e o minuto, para receber e fazer chamadas, cerca de US$ 0,50. "Espero que Raúl busque métodos para que as pessoas possam trabalhar", diz Juan Carlos. "Mas me parece utópico. A diferença entre o que se ganha e o que se precisa para viver é muito grande. Somos obrigados a viver de forma ilegal."

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