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Paradeiro de Chávez é incerto

Por Agencia Estado
Atualização:

O paradeiro do presidente deposto Hugo Chávez era incerto hoje. Segundo rumores que circulavam na capital venezuelana, o tenente-coronel da reserva teria sido transferido do Forte Tiuna, em Caracas, para a Base Aérea de Maracay. A transferência teria ocorrido de madrugada, em meio a manifestações, na porta do quartel, de simpatizantes do ex-presidente, dispersas pela Polícia Metropolitana. Em vários pontos da periferia de Caracas e noutras cidades do país houve protestos durante a noite, mas não há registros de maiores incidentes. Desde que foi deposto e preso, na madrugada de sexta-feira, Chávez é mantido sob isolamento, sem poder receber visitas de advogados, promotores, colaboradores políticos e nem mesmo da família. Sua filha María Gabriela Chávez, que falou com ele pelo telefone na manhã de sexta-feira, garantiu que o presidente não renunciou. Seus ex-colaboradores exigem que o Exército apresente uma renúncia por escrito assinada por Chávez. O ex-ministro da Educação Aristóbulo Isturiz sustenta a tese de que houve golpe de Estado e diz temer pela vida do ex-presidente. "Chávez preso é um perigo", declarou ele hoje. Também continua desaparecido o vice-presidente deposto, Diosdado Cabello, que se declara um "perseguido político", a partir da instauração do governo provisório do presidente Pedro Carmona, na sexta-feira. Cabello foi destituído, juntamente com todo o gabinete, no último ato de Chávez, em que supostamente aceitou sua saída da presidência. "Não renunciei ao cargo de vice-presidente", contestou Cabello, pelo telefone. O ministro do Interior e da Justiça, Ramón Rodríguez Chacín, depôs hoje de manhã. Ele foi preso em flagrante na sexta-feira, por porte ilegal de armas. Depois da deposição de Chávez, a polícia realizou batidas em várias repartições públicas, encontrando revólveres, pistolas e até fuzis em escritórios dos ministérios da Saúde e do Interior e Justiça, entre outros. Estão detidos 14 suspeitos de atirar contra os manifestantes na quinta-feira, em incidentes que deixaram 15 mortos e 350 feridos, dos quais 157 por disparos de armas de fogo, segundo o Corpo de Bombeiros de Caracas. Os franco-atiradores foram filmados pelas câmeras de televisão e, segundo a polícia, vários deles confessaram ter disparado na multidão, depois de assistirem aos vídeos que os incriminam. A deposição de Chávez desencadeou um processo de questionamento da legitimidade de leis, instituições e ocupantes de cargos. As 49 leis chamadas de "habilitantes", introduzidas por Chávez em novembro, que viraram de ponta-cabeça a ordem econômica, foram revogadas. Perderam o mandato os membros do Tribunal Supremo de Justiça e da Assembléia Nacional - substituída por um Conselho Consultivo de 35 representantes da sociedade. Serão convocadas eleições parlamentares antes de dezembro e presidenciais daqui a um ano. O governador do Estado de Táchira, Ronald Blanco, foi preso depois de se negar a reconhecer o governo do presidente interino Pedro Carmona. É incerto também o destino de outros governadores que apoiavam Chávez, incluindo o seu pai, Hugo de los Reyes Chávez, que governa Barinas. Vários governadores, como o do Estado de Vargas, Rodríguez San Juan, têm reafirmado que continuarão em seus cargos, lembrando que foram eleitos democraticamente. O novo governo garante que não haverá "caça às bruxas", mas o clima para os "chavistas" é bastante desfavorável. O general Guaicaipuro Lameda, antigo presidente da todo-poderosa estatal do petróleo PDVSA, reassumiu o cargo juntamente com seus ex-diretores, advertindo que os chefes que não tenham tido "atitudes éticas" no governo anterior terão de sair. A resistência à imposição de uma diretoria leal a Chávez na PDVSA foi um dos núcleos do movimento que uniu sindicatos patronais e de trabalhadores para exigir a renúncia de Chávez. Uma das primeiras medidas da PDVSA foi cortar o suprimento de petróleo para Cuba, que o recebia em troca do envio de médicos à Venezuela, como parte de um excêntrico Acordo Energético. Cerca de 30 desses médicos foram colocados sob custódia da polícia, segundo as autoridades, para protegê-los de agressões de populares.

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