10 de janeiro de 2014 | 02h04
Agora, a Tunísia nos envia estranhos sinais. Uma Assembleia Constituinte foi formada. Seus deputados, na maioria islamistas, elaboram a futura Constituição. E surpresa: essa Constituição exclui as soluções desumanas preconizadas em todos os outros países islâmicos. E dá as costas para a terrível sharia, a lei islâmica.
Segundo o projeto, "o Estado é o guardião da religião. Ele garante a liberdade de consciência e crença e o livre exercício do culto". E ainda, "a Tunísia é um Estado civil. Os cidadãos e cidadãs são iguais perante a lei, sem discriminação". E também estabelece que "as liberdades de opinião, de pensamento, de expressão e edição" estão garantidas.
O que ocorreu com os islamistas do Ennahda? Nos demais países muçulmanos, os radicais recomendam cortar os braços e as pernas das mulheres adúlteras, ou apedrejá-las até a morte.
Explicações possíveis? A primeira é que o partido cometeu muitos erros, mas entendeu que é preciso contar com a população. Uma população excepcionalmente evoluída e cultivada que pressionou vigorosamente para afastar o espectro sangrento da sharia. As mulheres tunisianas (que em geral não usam véu) manifestaram sua força, seu discernimento, sua coragem. E o partido as escutou. A vitória da razão sobre o delírio ainda não foi totalmente conquistada. A Assembleia Constituinte não concluiu seu trabalho, mas o novo texto deverá ser votado dia 14. Há muitos obstáculos, mas a esperança existe.
*Gilles Lapouge é correspondente em Paris.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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