ASSUNÇÃO - A secretária de Prevenção de Lavagem de Dinheiro ou Bens do Paraguai (Seprelad), María Epifania González, renunciou ao cargo nesta quarta-feira, 31, o que representa o quinto pedido de demissão de um ocupante de um posto de alto escalão no país na mesma semana, todos relacionados a um polêmico acordo feito em maio com o Brasil sobre a usina hidrelétrica de Itaipu.
María Epifania renunciou após ser divulgada pela imprensa paraguaia a notícia de que seu filho, José Rodríguez González, teria interferido em uma reunião com empresários brasileiros para que fosse retirado do acordo uma cláusula que dizia que o Paraguai poderia comercializar livremente sua energia excedente. Com isso, segundo opositores do governo do presidente Mario Abdo Benítez, teria agido contra os interesses nacionais.
A agora ex-secretária alegou ao à emissora de rádio Primero de Marzo, de Assunção, que deixou o cargo para dar apoio ao filho. "Não tinha ideia disso, acredito que por trás há muitas mentiras. Dei minha vida à Seprelad, e agora preciso dar minha vida a meu filho", declarou.
"Acordei com essa notícia, e a Seprelad precisa de alguém que se dedique em tempo integral. Neste momento, não me sinto em condições de dar todo o meu tempo", acrescentou.
Rodríguez participou da reunião, de acordo com o jornal ABC Color, como assessor jurídico do vice-presidente do país, Hugo Veláquez, embora não tivesse sido nomeado oficialmente para este fim. Essas informação coincide com a declaração dada na terça-feira pelo ex-presidente da Ande, Pedro Ferreira, de que uma pessoa cuja identidade não foi revelada por ele teria instruído os negociadores paraguaios a tirar esse ponto do documento.
Ferreira renunciou ao cargo na semana passada ao se opor a esse pacto, que denunciou que tinha sido realizado por representantes do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai e sem participação de técnicos da Ande nas negociações.
Ainda segundo Ferreira, o acordo em questão foi assinado em Brasília em maio. Com isso, a oposição acusou o governo de Abdo Benítez de traição, alegando que se trata de uma entrega de soberania ao Brasil.
O acordo provocou a primeira grande crise política do presidente paraguaio em seu primeiro ano de mandato e foi suspenso pelo governo no domingo.
Na segunda-feira, a crise ganhou novos contornos com as demissões do chanceler Luis Alberto Castiglioni e do embaixador do Paraguai no Brasil, Hugo Saguier, que havia liderado as negociações em Brasília.
No mesmo dia também apresentaram renúncia o diretor do lado paraguaio da hidrelétrica de Itaipu, José Alberto Alderete, e Alcides Jiménez, que havia substituído Ferreira à frente da Ande. / EFE