Paris cria órgão para frear financiamento externo do islamismo

Fundação é resposta do governo de Hollande à crescente influência de movimentos fundamentalistas

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Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

Em meio à polêmica sobre a proibição do “burkini” por prefeituras da França, o governo francês confirmou nesta segunda-feira que recriará a Fundação para o Islã da França, uma entidade destinada a bloquear o financiamento estrangeiro de mesquitas, salas de culto e instituições muçulmanas em atividade no país. 

Sua função será buscar recursos nacionais em substituição aos estrangeiros e, com isso, conter a influência de movimentos considerados fundamentalistas, como o salafismo, cuja expansão é financiada pela Arábia Saudita. 

Jean-Pierre Chevenement dá entrevista após encontro com líderes da comunidade islâmica Foto: AFP / MATTHIEU ALEXANDRE

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A fundação será financiada pelo Estado, com € 1 milhão, mas terá de buscar entre € 5 milhões e € 6 milhões em recursos privados franceses para prestar apoio a associações muçulmanas. Uma das hipóteses é a de que o governo crie um imposto sobre alimentos e bebidas halal – preparados segundo a tradição islâmica. O valor seria direcionado à formação de imãs, líderes religiosos, e obras de construção e manutenção de mesquitas, centros de cultos e associações islâmicas.

A reunião desta segunda-feira foi realizada em Paris teve a presença de membros do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), que apoiam a iniciativa. “A fundação dará às instituições muçulmanas os meios financeiros para reforçar seus papéis na prevenção da radicalização, em especial na habilitação de imãs” afirmou Anouar Kbibech, presidente do CFCM.

O anúncio da reformulação da fundação, que existe apenas no papel desde 2005, foi feito no mesmo dia em que o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, recebeu líderes religiosos e das comunidades muçulmanas para tentar pôr um fim à polêmica sobre o uso do “burkini”. O traje de banho, usado por muçulmanas, foi proibido por mais de 30 cidades litorâneas francesas do Mediterrâneo e do Atlântico, incluindo Nice e Cannes. Na sexta-feira, o Conselho de Estado, mais alta corte administrativa do país, julgou os decretos municiais inconstitucionais, liberando o uso das vestes.

Presidente nomeado da fundação, o ex-ministro do Interior, Jean-Pierre Chevènement, reiterou o objetivo de lutar contra o fundamentalismo islâmico na França. Usando o exemplo do burkini, Chevènement afirmou que via mulheres andando nas ruas do Cairo, no Egito, ou de Argel, na Argélia, nos anos 40 e 50, com vestes ordinárias, e hoje são constrangidas a usarem véus islâmicos. "O burkini visa a definir um lugar para a mulher na sociedade que é claramente distinto e subordinado aos homens", argumentou. "Creio que podemos tolerá-lo, porque é lícito, mas não podemos aprová-lo."

Horas depois, o primeiro-ministro da França, Manuel Valls, afirmou que seu objetivo é combater o "novo totalitarismo". "Um novo totalitarismo surgiu, o totalitarismo islâmico, com uma vontade: fraturar as democracias e esmagar as liberdades individuais, instalar uma ordem social, uma sociedade de dominação dos homens sobre as mulheres", afirmou.

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