Paris teme vitória de Washington no Conselho

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Por Agencia Estado
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Os diplomatas do Quai D?Orsay, o Ministério das Relações Exteriores da França, passaram um fim de semana agitado, diante das informações vindas do outro lado do Atlântico, segundo as quais os ventos estão mudando em Nova York, na sede das Nações Unidas. Os Estados Unidos já teriam reunido o apoio de uma maioria de países no interior do Conselho de Segurança para aprovar uma única resolução permitindo um ataque automático contra o Iraque, caso malogre a missão dos inspetores da ONU, especialistas em desarmamento. Os norte americanos já contariam com o apoio de nove entre os quinze países do Conselho de Segurança, o que deixaria a França e a Rússia, contrárias a essa resolução, numa posição minoritária e politicamente delicada. O novo texto prevê de forma velada a possibilidade de um ataque e deverá ser apresentado em conjunto pelos EUA e Grã Bretanha na próxima terça feira. Esses mesmos diplomatas, bem como outras fontes do Palácio do Eliseu, sede da Presidência da República, desmentiram domingo que o presidente Jacques Chirac tenha enviado um emissário especial a Bagdá, Pierre Delval, segundo revela o diário árabe Asharq al - Awsat. Esse nome é desconhecido tanto no Quai D?Orsay como no Palácio do Eliseu. O objetivo da missão desse enviado francês junto a Saddam Hussein seria obter uma mudança na política interna e externa iraquiana. Essa mudança teria concorrido para a anistia geral de prisioneiros decretada por Saddam recentemente. Ela poderia também reforçar a posição dos que são contrários à ofensiva militar anglo-americana, a maior parte dos países europeus, da África e Oriente Médio. Apesar dos desmentidos, o jornal árabe divulgou uma série de detalhes dos encontros desse emissário misterioso com diversas autoridades iraquianas, principalmente com o vice primeiro ministro Tarek Aziz, na verdade o chefe da diplomacia iraquiana, com quem teria estado em quatro ocasiões, deixando perplexos diplomatas de outros países. Como se sabe, uma eventual ofensiva militar contra o Iraque, segundo proposta francesa, teria que ser aprovada por uma nova resolução específica e nunca poderia ser conseqüência da primeira, unicamente tratando da presença dos inspetores da ONU para promover o desarmamento desse país. Entre os países representados no Conselho de Segurança e que teriam mudado de posição, cita-se a Irlanda e a Guiné. As pressões de um forte lobby nesses últimos dias teria levado esses dois países a abandonar o grupo liderado pela França e Rússia, do qual fazem parte ainda China, Síria, Camarões e México. Eles teriam se aproximado do campo norte americano, integrado também pela Grã Bretanha, Bulgária, Noruega, Cingapura, Colômbia e mesmo Mauricius, cujo embaixador na ONU inicialmente mostrou-se favorável às teses francesas, teria mudado de posição depois de ter sido ameaçado por seu governo de ser chamado de volta ao país. Se essa evolução se confirmar, para evitar uma derrota humilhante no Conselho de Segurança, certos ajustamentos seriam introduzidos no texto, o que permitiria a adesão da França e da Rússia, facilitando a solução de consenso. Outra possibilidade, mais remota, seria a utilização pela França de seus direitos de veto como um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. Paris e Moscou poderiam brandir essa ameaça de um veto, mesmo se nenhum dos dois pareça disposto a tornar efetiva uma tal ameaça. Se isso vier a ocorrer, Washington e Londres poderiam assumir sozinhos a iniciativa pela ofensiva militar. Nesse caso, Jacques Chirac teria que assumir a responsabilidade pela abertura de uma crise diplomática mais profunda com essas duas capitais, além das simples divergências atuais que já tem dado muito o que falar.

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