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Parlamento destitui presidente da Ucrânia e marca eleição para maio

Yanukovich sai de Kiev e denuncia golpe após manifestantes cercarem palácio presidencial e militares anunciarem que não se envolveriam em política

Foto do author Lourival Sant'Anna
Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

(Atualizada às 13h36) 

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Depois de três meses de manifestações que deixaram cerca de cem mortes, o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, deixou neste sábado, 22, a capital, Kiev. O Parlamento aprovou mais tarde a destituição do líder, considerado "incapaz" de governar, e marcou eleições para 25 de maio.

Horas antes, manifestantes munidos em geral de bastões, escudos e capacetes tomaram o controle dos pontos estratégicos, incluindo o gabinete e a residência presidenciais, o Parlamento, o Banco Central e os ministérios. O país, cujo primeiro-ministro, Mykola Azarov, caíra em dezembro, parecia sem governo.

 

Yanukovich apareceu à tarde em uma rede local de televisão dizendo que seu carro tinha sido alvo de disparos, mas não aparentava ferimentos, de acordo com a agência 'Reuters'. "Não estou com medo", declarou o presidente. "Sinto pena do meu país, aterrorizado por gângsteres." Ele acrescentou que viajaria pelo sudeste do país para se encontrar com a população e se disse vítima de um golpe.

 

Aparentemente, a entrevista foi feita em Kharkiv, no nordeste do país. A faixa leste e o sul são considerados redutos do presidente e favoráveis à Rússia.

 

O comando das Forças Armadas anunciou que não se envolveria na disputa política. "As Forças Armadas da Ucrânia são leais a suas obrigações constitucionais e não podem ser arrastadas para um conflito político interno", afirmou comunicado publicado no site do Ministério da Defesa.

 

Durante a noite de sexta-feira para sábado, os manifestantes estreitaram o cerco em torno da Praça da Independência, temendo que, depois de um acordo mediado por países europeus e firmado com a oposição, Yanukovich declarasse estado de emergência e ordenasse a sua retomada pelo Exército. Kiev amanheceu tensa, com manifestantes arregimentando forças para um possível confronto. Mas os militares não apoiaram o presidente.

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O efetivo das Forças Armadas ucranianas é formado pelo serviço militar obrigatório e os soldados não se mostravam dispostos a cumprir ordens de reprimir a população. Os recrutas chegaram a mobilizar suas mães para se manifestar na frente dos quartéis contra um eventual envolvimento do Exército na repressão. A segurança estava a cargo da polícia, que visivelmente não tinha efetivo suficiente para conter os milhares de manifestantes – alguns com armas de fogo – que a enfrentavam em geral com pedras e coquetéis molotov em Kiev e em outras cidades, sobretudo do oeste do país.

 

A notícia da saída de Yanukovich foi recebida com fogos de artifício na Praça da Independência, epicentro do movimento, às 15 horas em Kiev (10 horas em Brasília).

 

Yulia. A ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, líder da oposição, foi solta da prisão. Yulia foi condenada em 2011 a 7 anos de prisão, acusada de desvio de dinheiro em um contrato de gás com a estatal russa Gazprom. Na sexta-feira, o Parlamento aprovou a sua libertação. Yulia liderou a chamada Revolução Laranja, em 2004, movimento popular que resultou na anulação da eleição de Yanukovich. Em 2010, foi derrotada por ele nas urnas, em uma eleição que segundo os opositores também foi fraudada.

 

Os deputados escolheram neste sábado como presidente do Parlamento a Oleksander Turchynov, dirigente do Partido Pátria, de Yulia. Com as dissidências em massa nos últimos dias em seu Partido das Regiões, Yanukovich perdeu a maioria no Parlamento.

 

Cedendo a pressões dos manifestantes e da União Europeia, Yanukovich anunciou concessões na sexta-feira, incluindo mudanças constitucionais para devolver ao Parlamento poderes que ele havia transferido para a presidência, como o de nomear o primeiro-ministro, seu gabinete e os governadores regionais. Também anunciou a antecipação, para este ano, das eleições presidenciais e parlamentares previstas para 2015.

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