PUBLICIDADE

Partidários de Kadafi fogem para o Níger com fortuna do BC da Líbia

Líder líbio teria deixado a cidade de Bani Walid e estaria a 300 quilômetros de países vizinhos, segundo membro do conselho de transição; comboio de até 250 veículos atravessa o Saara e chega a Agadez; Burkina Fasso desmente ter oferecido asilo ao coronel

Foto do author Lourival Sant'Anna
Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL / TRÍPOLIUm comboio de pelo menos 50 veículos - ou até 250, segundo outro cálculo - escoltado por homens fortemente armados atravessou ontem o Deserto do Saara e chegou à cidade de Agadez, no Níger, país que faz fronteira com a Líbia ao sul.Na noite de ontem, um funcionário do Conselho Nacional de Transição (CNT) encarregado de encontrar Muamar Kadafi disse que a última pista do ditador fora localizada no sul do país, a 900 quilômetros de Trípoli e a 300 quilômetros da tríplice fronteira da Líbia com o Níger e o Chade. De acordo com o funcionário, Kadafi poderia ter chegado a esse local no fim de semana e ele estaria recebendo proteção de tribos locais. Segundo Fathi Baja, do CNT, o comboio de veículos que atravessou a fronteira com o Níger carregava ouro, euros e dólares, que seriam da sede do Banco Central de Sirte. O chefe da brigada de segurança de Kadafi, Mansour Daw, chegou a Niamey, capital do Níger, no domingo. A longa coluna de veículos foi escoltada por combatentes tuaregues, povo nômade do deserto, cujos rebeldes que lutavam contra os governos do Mali e do Níger receberam treinamento e armas da Líbia de Kadafi nos anos 70 e 80. Depois de cruzar a fronteira, o comboio teria sido escoltado pelo Exército do Níger. O presidente do país, Mahamadou Issoufou, foi eleito em fevereiro, substituindo uma junta militar.Guma al-Gamaty, porta-voz do CNT em Londres, disse que o Níger sofrerá represálias por parte do novo governo líbio se ficar confirmado que o país ajudou Kadafi a fugir da Líbia. "O Níger é vizinho da Líbia ao sul e deveria considerar a futura relação com o país", disse Al-Gamaty à BBC. "Se confirmado, isso criará muito antagonismo na futura relação entre Líbia e Níger."O ministro das Comunicações de Burkina Fasso, Edouard Traore, negou versão veiculada ontem de que o país teria oferecido asilo político a Kadafi. "Burkina Fasso não foi informado de que Kadafi está vindo para este país", disse ele. A mulher de Kadafi, uma filha e dois filhos fugiram para a Argélia no dia 29. Houve relatos de que Kadafi teria telefonado, de perto da fronteira entre os dois países, para o presidente argelino, Abdelaziz Bouteflika, mas ele teria rejeitado atender. A Argélia ainda não reconhece o CNT, embora tenha dado sinais de que vá fazê-lo; já o Níger reconhece.Em Trípoli, a fuga do comboio provocou especulações sobre um eventual acordo entre os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e Kadafi, considerando a impossibilidade de uma coluna de veículos como essa passar despercebida da vigilância da aliança. Representantes do CNT mantiveram novas negociações ontem com os líderes tribais de Bani Walid, cercada por seus combatentes. O chefe dos negociadores, Abdullah Kenshil, disse à agência France Presse ter assegurado aos líderes que os combatentes preservariam a população. Situada 150 km a sudeste de Trípoli, Bani Walid, de 100 mil habitantes, é considerada o principal reduto da tribo warfallah, a maior da Líbia, com 1 milhão de integrantes, que formava a base de apoio a Kadafi. Os líderes tribais de Bani Walid têm recusado a entrada de combatentes provenientes de outras cidades. Há apenas entre 100 e 200 combatentes pró-Kadafi em Bani Walid, embora fortemente armados. Além dela, há outras três cidades nas mãos das forças leais ao ditador: Sirte, sua cidade natal, 450 km a leste de Trípoli, Sabha e Jufra, ambas a quase 800 km ao sul. EUA exigem que país prenda líbiosO Departamento de Estado dos EUA disse ontem que o Níger deve deter os oficiais de alto escalão do regime Kadafi que entraram no país. Também pediu ao Níger que garanta que qualquer bem do regime, como dinheiro e joias, seja devolvido ao povo líbio.

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.