PUBLICIDADE

Partido de Blair atinge menor popularidade em 12 anos

Pesquisa atribui aos trabalhistas apenas 29% do apoio popular, oito pontos abaixo dos conservadores, que também não alcançaram maioria absoluta de votos

Por Agencia Estado
Atualização:

A duas semanas das eleições municipais inglesas e das autônomas de Escócia e País de Gales, os trabalhistas atingiram o nível mais baixo de popularidade desde que Tony Blair assumiu a liderança do partido, em 1994. De acordo com uma pesquisa publicada nesta pelo jornal The Times, Blair, que prometeu deixar ainda este ano a chefia do governo britânico, abandonará o poder após o que se prevê como um forte abalo para o Partido Trabalhista nas eleições do dia 3. A pesquisa atribui aos trabalhistas apenas 29% do apoio popular, número que não era registrado desde a época em que o partido era liderado pelo esquerdista Michael Foot e estava fortemente dividido. Seu único consolo é o de que, apesar do forte desgaste representado pelos dez anos de governo, seus rivais conservadores não parecem ter avançado o suficiente sob a liderança de David Cameron para aspirar uma maioria absoluta nas próximas eleições gerais. Se as eleições fossem realizadas nesta terça-feira, 17, os conservadores teriam 37% dos votos, apenas oito pontos à frente dos trabalhistas. Ambos os partidos caíram um ponto em relação à pesquisa de um mês atrás. Por outro lado, os liberal-democratas avançaram dois pontos, chegando a 20%. A pesquisa reflete um forte cansaço do eleitorado com o sistema basicamente bipartidário britânico, levando 14% dos eleitores a preferirem outras opções, que vão desde o Partido Verde, com 4%, até os partidos nacionalistas escocês e galês, com 2% cada um. Crises do governo Desde a fatídica decisão de invadir o Iraque, os desastres foram se acumulando para Tony Blair: o último foi a captura de 15 marinheiros britânicos pelos iranianos nas águas do Golfo Pérsico, e a decisão do governo, que depois voltou atrás, de permitir que os oficiais vendessem suas experiências aos tablóides. Na segunda-feira, o responsável por esse desastre de relações públicas das Forças Armadas, o ministro da Defesa, Des Browne, se desculpou perante o Parlamento, o que, no entanto, não conterá os que pedem responsabilidade aos dirigentes por tamanha humilhação da outrora orgulhosa Marinha britânica. Enquanto isso, o Partido Trabalhista se vê abalado até mesmo em duas regiões que foram seus redutos tradicionais. Na Escócia, de onde vem o candidato do Partido à sucessão de Blair, o ministro de Finanças, Gordon Brown, os nacionalistas têm ampla vantagem nas intenções de voto. O analista John Curtice, da Universidade de Strathclyde, calcula que nas eleições regionais do dia 3 o Partido Nacionalista Escocês, que quer a independência da região, pode conseguir 45 cadeiras - atualmente tem 27 -, contra 40 dos trabalhistas, que perderiam dez. Para alívio de muitos, os nacionalistas não poderão governar sozinhos, tendo que se aliar aos liberal-democratas, que se opõem inclusive à idéia de realizar um plebiscito sobre uma eventual independência da Escócia. No País de Gales, região mais pobre do Reino Unido, onde, desde 1922, os trabalhistas sempre venceram as eleições gerais, além das autônomas, desde que foram instituídas, em 1999, o partido de Tony Blair não deverá ser derrotado pela oposição, como na Escócia, mas a previsão é de uma disputa acirrada. Como explica o professor da Oxford Ross McKibbin, Tony Blair conseguiu três vitórias inéditas para os trabalhistas nas urnas, mas, paradoxalmente, contribuiu mais do que nenhum outro político para a autodestruição do partido. E as conseqüências já começam a ser sentidas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.