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Em eleição com poucos votos árabes, Netanyahu ruma para quinto mandato

Em disputa equilibrada com Benny Gantz, que teve adesão de moderados, premiê tende a conseguir mais apoio de partidos pequenos para formar coalizão

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Por Cristiano Dias
Atualização:

JERUSALÉM  - O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, ficou nesta terça-feira mais perto de ser reeleito para um quinto mandato em Israel. Nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira (início da madrugada no Brasil), com 99% das urnas apuradas, o Likud, partido do premiê, e o Azul e Branco, do general Benny Gantz, estavam empatados, com 35 cadeiras cada um. Bibi, no entanto, aparece em vantagem quando somada a coalizão de pequenos partidos, que lhe dariam entre 65 e 67 deputados dos 120 do Parlamento.

Ao lado de sua mulher, Sara, Netanyahu festeja os primeiros resultados da eleição Foto: Thomas COEX / AFP

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Apesar do dia de sol na maior parte do país e do clima de feriado, que tirou muita gente de casa, a eleição foi marcada pelo baixo comparecimento dos árabes-israelenses, que reúnem cerca de um quinto da população. Um pouco mais de 46% deles votaram nesta terça-feira, bem abaixo dos 63,5% registrados nas últimas eleições, em 2015. A participação eleitoral geral foi de 67,9%. 

Segundo analistas, a ausência árabe é um reflexo de frustração. “A frustração é com a atuação dos atuais deputados árabes, que não conseguiram responder às necessidades dos eleitores e com a fragmentação da Lista Árabe Unida, que antes dava uma sensação maior de poder”, disse a consultora Lily Galili. A lista era uma constelação de pequenos partidos que costumavam disputar a eleição em bloco, mas que agora se dividiram em dois grupos.

“Os árabes-israelenses não acreditam que os partidos árabes divididos tenham alguma efetividade no Parlamento”, afirmou o analista Mohamed al-Kassim. Em 2015, a Lista Árabe Unida elegeu 16 deputados. Agora, serão 10.

A sensação de desânimo, segundo árabes-israelenses consultados pelo Estado, também tem relação com a chamada Lei do Estado-Nação, aprovada em julho do ano passado. O texto determina que Israel é um Estado exclusivamente judeu, que tem como sua única capital “Jerusalém unificada” e apenas o hebraico é a língua oficial.

Muitos árabes-israelenses, especialmente os jovens, passaram a se sentir “cidadãos de segunda classe”. Alguns criticaram especialmente o general Gantz, que nunca se refere à minoria como “árabes”, mas sim como “o setor não judeu” da sociedade. Logo após a divulgação dos primeiros resultados, Bibi se dirigiu a seus eleitores e se mostrou confiante de que formará o novo governo.

Nesta terça-feira, o partido de Netanyahu foi acusado de suprimir ainda mais o voto árabe. O Likud colocou 1.300 câmeras ocultas em centros de votação de árabes-israelenses – algumas entraram escondidas no corpo dos correligionários do premiê.  A iniciativa foi criticada por opositores, que acusam Netanyahu de tentar intimidar a população. O primeiro-ministro israelense defendeu a filmagem das seções eleitorais e afirmou que deveria haver câmeras para “garantir um voto justo”.

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Disputa.

As seções eleitorais fecharam às 21 horas (18 horas em Brasília). Uma hora depois, as três principais TVs de Israel divulgaram pesquisas de boca de urna. Os números eram parecidos: Gantz e Netanyahu disputavam a liderança voto a voto, mas o grupo político do premiê, a chamada “direita religiosa”, faria mais deputados.

A decisão sobre quem terá a prerrogativa de formar um governo primeiro cabe ao presidente israelense, Reuven Rivlin. Ele pedirá que os partidos que elegeram deputados indiquem quem apoiam para o cargo de primeiro-ministro. Quando obtiver uma resposta, o presidente escolhe o líder do partido para tentar formar uma coalizão de governo.

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Sem um vencedor claro, as legendas nanicas ganharam ontem um protagonismo inesperado e seus líderes se tornaram fiéis da balança. Dois partidos da coalizão de Bibi, o Shas e o Yahadut Hatorah (UTJ), ambos religiosos ultraortodoxos, disseram que receberam ligações de representantes do Azul e Branco, partido de Gantz. No entanto, seus líderes, ‎Aryeh Deri (Shas) e ‎Yaakov Litzman (UTJ) juraram fidelidade a Netanyahu.

O ministro das Finanças, Moshe Kahlon, líder do Kulanu, partido de centro, e o ex-ministro da Defesa Avigdor Liberman, do partido Yisrael Beytenu, disseram que esperarão a conclusão da apuração para anunciar apoio – embora seja quase consensual que eles também ficarão com Netanyahu.  

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