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Biden vence primárias na Carolina do Sul e intensifica disputa com Sanders

Ex-vice-presidente confirmou favoritismo em seu reduto eleitoral, mas cenário nebuloso tem fragilizado candidatos e aumentado risco de confusão na convenção partidária do partido em julho

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla e correspondente
Atualização:

WASHINGTON - O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Joe Biden confirmou o favoritismo e venceu as primárias do Partido Democrata na Carolina do Sul nesse sábado, 29. Com a vitória, Biden intensifica a disputa com o senador Bernie Sanders, que vinha sendo um dos protagonistas da campanha até o momento. “Há alguns dias, a imprensa e os especialistas declararam nossa campanha morta. Mas depois de hoje, está claro que estamos muito vivos”, escreveu Biden em seu Twitter após o resultado.

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O partido vive cenário de fragmentação no momento mais decisivo na escolha do candidato presidencial. Na terça-feira, 14 Estados elegem 40% dos delegados que definirão o adversário de Donald Trump em novembro - maratona conhecida como “Superterça”.

A força mostrada pela campanha do senador Bernie Sanders nas primeiras quatro disputas criou ainda mais rachas dentro do partido, enquanto os nomes mais tradicionais e moderados se digladiam na tentativa de se consolidar como a oposição ao novo favorito. A falta de clareza sobre os candidatos que sobreviverão até julho e a dificuldade em unificar as mensagens aos eleitores têm prolongado a disputa interna, o que fragiliza a oposição a Trump.

Último debatedo Partido Democrata, em fevereiro Foto: Logan CYRUS / AFP

Entre os Estados que votam na Superterça estão Texas e Califórnia. No total, 1.357 delegados dos 3.979 totais serão definidos. Para obter a candidatura, Sanders precisa obter a maioria deles. No entanto, as lideranças do partido têm demonstrado resistência ao seu nome. Independente, Sanders se apresenta como um socialista democrata e é visto internamente como um nome radical de esquerda, que não conseguiria mobilizar os eleitores moderados. O senador argumenta que as primárias e as pesquisas indicam que ele é mais indicado para montar a mais ampla coalizão contra Trump. 

“Essa é uma primária que desorganiza o partido. Se você tem mais de dois candidatos na disputa, é muito difícil para um deles atingir 51% dos delegados na convenção partidária”, afirma Maurício Moura, professor da Universidade George Washington e presidente do instituto de pesquisa Idea Big Data – Sanders disputa os votos da ala radical do Partido Democrata com a senadora Elizabeth Warren, enquanto Joe BidenMichael Bloomberg, Pete Buttigieg e Amy Klobuchar lutam pelos votos dos centristas.

A Superterça marca ainda a entrada do bilionário e ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg na disputa. Em uma estratégia ousada, ele se lançou com atraso e não participou das primeiras quatro prévias. Nos EUA, o voto é indireto. Para chegar à Casa Branca, o candidato não precisa vencer a eleição popular, mas obter maioria no colégio eleitoral, onde cada Estado tem uma quantidade determinada de votos – alocada de acordo com a população. Por isso, os candidatos priorizam a campanha em Estados-chave, onde a disputa entre democratas e republicanos é mais acirrada. 

Em parte desses Estados-chave, Sanders vence Trump, segundo pesquisas. Mas em outros, como Arizona, Ohio e Flórida, Biden tem mais chances de vitória. Desde 2016, quando disputou contra Hillary Clinton as prévias, Sanders tem construído uma base sólida de apoio, principalmente entre o eleitor com menos de 45 anos.

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No entanto, alguns analistas acreditam que, por ele ser o candidato mais distante de Trump no espectro político, pode acabar mobilizando também os republicanos. Mesmo os bons resultados de Sanders até agora não garantem que ele terá mais da metade dos delegados em julho, quando os democratas se reúnem na convenção para nomear seu candidato. 

“A experiência democrata em convenções disputadas (em que ninguém tem maioria) é a pior possível. Quando há confusão nas primárias, o maior beneficiado é o adversário. Temos um cenário de uma indefinição que prejudica a campanha contra um presidente em exercício”, afirma Moura. “O eleitor é apresentado a várias mensagens difusas e fica muito difícil saber quem tem condição de ganhar de Trump.”

A quantidade de candidatos também prejudica a arrecadação de dinheiro, já que um mesmo eleitorado se divide na hora de doar aos candidatos. As doações são cruciais para viabilizar uma campanha nos EUA. As primárias são a forma de passar para o eleitor uma decisão que antes da década de 70 ficava nas mãos dos líderes do partido: a escolha do candidato presidencial.

Mas há mecanismos internos – com a figura dos superdelegados – para que o establishment barre a indicação de Sanders na convenção. Jay Jacobs, presidente do Partido Democrata de Nova York – e superdelegado – já disse que os superdelegados escolheriam o candidato que tivesse mais chance de derrotar Trump, caso ninguém obtenha maioria durante as primárias.