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Narendra Modi supera previsões e é reeleito premiê da Índia na 'maior eleição do mundo'

Pela primeira vez em 50 anos, um líder indiano consegue maioria no Parlamento pela segunda vez seguida; partido nacionalista BJP terá 343 cadeiras das 545 da Câmara baixa e poderá aprovar reformas

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Por Redação
Atualização:

NOVA DÉLHI - O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, foi reeleito para mais um mandato nesta quinta-feira, 23, após a oposição, liderada por Rahul Gandhi, do Partido do Congresso,reconhecer a derrota. O partido do premiê, o BJP (Bharatiya Janata Party, ou partido do povo indiano), de vertente nacionalista, e seus aliados, devem ficar com 350 cadeiras, o suficiente para ter maioria na Câmara dos Deputados, que tem 543 vagas. A vantagem dará a Modi margem para buscar uma agenda ambiciosa de reformas internamente e no exterior. É a primeira vez na história da democracia indiana que um partido mantêm a maioria no Congresso.

“Índia venceu de novo!”, disse Modi, que tenta obter um segundo mandato Foto: Prakash Singh / AFP

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Dados oficiais parciais da Comissão Eleitoral do país mostram que a coalizão de Modi, liderada pelo partido BJP estava à frente em 350 dos 543 assentos em disputa.

Para governar, uma coalizão precisa obter ao menos 272 cadeiras na câmara baixa do Parlamento. Na última eleição, em 2014, a aliança de Modi conseguiu 336 assentos. Em segundo lugar, com 84 assentos, está a principal aliança de oposição, liderada pelo partido Congresso Nacional Indiano. A comissão eleitoral não informou o total de votos já apurados. 

A eleição foi a maior eleição do mundo, com quase 600 milhões de eleitores participando, dos 900 milhões aptos a votar, e considerada um referendo sobre o atual primeiro-ministro e suas políticas. O pleito transcorreu durante seis semanas e quebrou todos os recordes em termos de volume e complexidade, a um custo aproximado de 7 bilhões de dólares.

O resultado foi visto como um voto de confiança em Modi e em seu partido. Muitos acreditam que agora o premiê usará esse momento para fazer mudanças econômicas duras, como relaxar regras de contratação e demissão de empregados. Outros ainda temem que Modi concentrará mais poder.

"Juntos nós crescemos. Juntos nós prosperamos. Juntos, vamos construir uma Índia forte e inclusiva. A Índia vence mais uma vez!", disse Modi em seu discurso. “As pessoas da Índia se tornaram chowkidars [vigilantes] e prestaram um grande serviço à nação. Chowkidar se tornou um símbolo poderoso para proteger a Índia do mal do casteísmo, comunalismo [divisão em etnias], corrupção e nepotismo.”

O governo de Modi não conseguiu criar empregos suficientes para os milhões de indianos que entram no mercado de trabalho a cada mês Foto: Manjunath Kiran / AFP

Após ter ordenado o ataque aéreo contra o Paquistão, em fevereiro, em resposta a um atentado terrorista de que matou 40 paramilitares indianos na Caxemira, Modi acrescentou, no Twitter, a palavra “chowkidar” (vigilante) antes de seu nome. Era uma tentativa de demonstrar que ele é o homem forte, capaz de governar a Índia. Modi aproveitou o momento para atiçar o nacionalismo hindu contra o Paquistão, antigo rival indiano

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Os dois países vizinhos detém armas nucleares e tem um longo histórico de conflito armado, principalmente por causa da Caxemira, região montanhosa cobiçada pelos dois lados - e ocupada pelas respectivas tropas - por mais de 70 anos. Os dois países eram colônias britânicas e se separaram em agosto de 1947, quando o Reino Unido finalmente desistiu de sua colônia. O Paquistão tem maioria muçulmana, e a Índia, maioria hindu.

Maior eleição do mundo

Modi chegou ao poder nacional após governar por cerca de 12 anos o estado indiano de Gujarat e ter sido capaz de trazer desenvolvimento econômico à região. Sua campanha de 2014 também foi marcada pela promessa de fazer um governo limpo, após a coalizão de seu antecessor, Manmohan Singh, do partido INC (Indian National Congress), que lidera uma coalizão de centro-esquerda, ter sido alvo de escândalos de corrupção. 

O INC, é hoje a maior força de oposição na Índia. Esse era o partido de Mahatma Gandhi, líder da independência do país do Reino Unido, em 1947. A legenda apoia o Estado laico e a diversidade religiosa e foi hegemônica na Índia até o final da década de 1990. 

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Já o BJP, de Modi, reflete o hinduísmo ultranacionalista. Modi também é membro da organização RSS (Rashtriya Swayamsevak Sangh), de direita e ligada ao BJP, que tem uma rede de entidades comunitárias espalhadas pelo país. A agenda política da RSS inclui a adoção de reformas educacionais para valorizar o sentimento nacionalista hindu, restrições ao culto de muçul

O líder de 68 anos, que participou de dezenas de comícios em todo o país para animar sua base hindu, transformou a campanha em um debate sobre a segurança nacional após o atrito com o Paquistão em março. Rahul Gandhi, de 48 anos, do Partido do Congresso e que pretende ser o quarto membro da família Gandhi-Nehru a liderar a Índia, foi um duro adversário do atual premiê.

Campanha marcada por mortes e fake news

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As notícias falsas e imagens manipuladas foram destaque durante a campanha, como as que mostravam Gandhi e Modi almoçando com Imran Khan, o primeiro-ministro do Paquistão.

Também foram registradas mortes. Os rebeldes maoístas que se opõem ao Estado indiano mataram 15 soldados no Estado de Maharashtra, oeste do país, no dia 1.º de maio. Confrontos ocorreram em Bengala Ocidental, onde o BJP esperava compensar a perda de apoio em Uttar Pradesh, o Estado mais populoso.

Gandhi tentou atacar Modi em várias frentes, especialmente com relação a um suposto caso de corrupção em um acordo de defesa com a França, e dificuldades dos agricultores e da economia.

Ambos trocaram insultos diariamente: Modi chamou Gandhi de "burro", que acusou o primeiro-ministro de ser "ladrão". O governo de Modi não conseguiu criar empregos suficientes para os milhões de indianos que entram no mercado de trabalho a cada mês, e a inesperada proibição de dinheiro em espécie em 2016 causou enormes problemas para as famílias./ AFP e NYT

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