Partidos britânicos agem para evitar secessão da Escócia

Líderes políticos detalharam ontem um projeto que oferece mais autonomia aos escoceses em caso de vitória do "não"

PUBLICIDADE

Por ANDREI NETTO e EDIMBURGO
Atualização:
O primeiro-ministro britânico, David Cameron (esquerda), ao lado de Nick Clegg, chefe dos liberais, e Ed Miliband, que comanda os trabalhistas Foto: Dan Kitwood/AFP

Líderes dos três principais partidos políticos da Grã-Bretanha, conservadores, trabalhistas e liberais, detalharam ontem um projeto que oferece mais autonomia para a Escócia em caso de vitória do "não" à independência no plebiscito de amanhã. A proposta tenta convencer cerca de 500 mil eleitores indecisos e conter as possibilidades concretas de secessão do país.

PUBLICIDADE

A oferta feita em uma carta aberta publicada ontem no jornal escocês Daily Record foi assinada pelo primeiro-ministro, David Cameron, líder conservador, pelo vice-primeiro-ministro, Nick Clegg, chefe dos liberais, e por Ed Miliband, que comanda os trabalhistas e chefia a oposição.

No documento, inédito e histórico, os parlamentares se comprometem a iniciar, na sexta-feira, um dia após a votação, negociações para um projeto de lei que devolveria, em 2015, ao Parlamento escocês poderes para definir investimentos em políticas sociais, como o sistema público de saúde (NHS, na sigla em inglês), que passaria a ser blindado de políticas de austeridade, muito criticadas pelos escoceses.

Reforma política. Os líderes se comprometem também a transformar a legislação em "parte permanente e irreversível" da Constituição britânica. As medidas, ainda imprecisas, vinham sendo discutidas havia 10 dias, desde que pesquisas indicaram um empate técnico entre a campanha separatista e a unionista. Ambos os campos chegam à véspera do plebiscito com 52% (unionistas) e 48% (separatistas) da preferência, segundo pesquisas publicadas ontem pelos institutos Opinium e ICM.

Um dos maiores defensores das medidas, o ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, nascido na Escócia, advertiu ontem mais uma vez que pode haver um caos político após a eventual secessão da Grã-Bretanha.

"Se você votar 'sim', o efeito do 18 de setembro será romper cada vínculo restante que nós temos, com amigos, vizinhos ou parentes", disse Brown.

Ameaças. Nas ruas de Edimburgo, porém, a estratégia de ameaças contra a secessão adotada pela campanha unionista não parece mais surtir efeito. Frequentemente, o resultado é contrário.

Publicidade

"Vivo há três anos em Edimburgo como doutorando em Direito Constitucional. Minha posição era de não votar, mas simpatizava com a campanha separatista pelo profundo senso de autodeterminação", explicou ao Estado Jean-Paul Kajip, nigeriano que tem direito a voto por fazer parte da Commonwealth (Comunidade Britânica de Nações) e está inscrito nas listas eleitorais escocesas. "O que me fez ir às urnas é a campanha de chantagem, intimidação e de ataques dos políticos de Westminster (Parlamento britânico)."

Para Kajip, as propostas de devolução dos poderes para Edimburgo não passam de cortina de fumaça em meio a uma disputa eleitoral crucial e apertada. "Os partidos que têm mais a perder estão desesperados para manter o poder", afirma.

Primeiro-ministro escocês e líder da campanha pela independência, Alex Salmond, também se valeu dos mesmos argumentos para desacreditar as propostas de mais autonomia.

"É totalmente inadequado e insuficiente", respondeu Samond. "Não é nada comparado aos poderes que a Escócia precisa para criar empregos, salvar o sistema público de saúde e construir uma sociedade melhor."

Diante da incerteza sobre o resultado da eleição, os ânimos entre os dois campos começam a se exaltar com a proximidade do plebiscito. Ontem, em visita a Edimburgo, Ed Miliband foi cercado por partidários do "sim" e hostilizado com palavrões. "Temos visto um lado feio de parte da campanha separatista", criticou o líder trabalhista.

Embora o futuro da Escócia e da Grã-Bretanha esteja em jogo, sondagens realizadas na Inglaterra e no País de Gales indicaram ontem que quase 30% dos ingleses não ligam para o plebiscito de amanhã.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.