Passa de 1,4 mil total de presos em protesto na Malásia

PUBLICIDADE

Por CLARISSA MANGUEIRA E CYNTHIA DECLOEDT
Atualização:

A polícia da Malásia prendeu hoje mais de mil pessoas na maior manifestação política realizada no país em vários anos, após semanas de tensão. Centenas de manifestantes contra o atual sistema eleitoral do país marcharam para o centro da capital, Kuala Lumpur, apesar da advertência das autoridades do governo, que fecharam ruas e as estações de trem. A polícia federal diz ter detido mais de 1,4 mil pessoas. Ambiga Sreenevasan, um dos principais organizadores da passeata, assim como manifestantes pró-governo, estão entre os presos. Autoridades atiraram jatos de água e gás lacrimogêneo conforme a multidão aproximou-se do famoso Merdeka Stadium, enquanto helicópteros sobrevoaram os manifestantes. Testemunhas disseram que a polícia agrediu manifestantes com bastões, que gritavam "reformas" e "longa vida ao povo".Autoridades estimaram o total de manifestantes em 5 mil, embora ativistas acreditem que 50 mil pessoas participaram da marcha. A manifestação e a resposta do governo contrariam a reputação da Malásia de um dos países mais estáveis e previsíveis da Ásia. Embora a nação predominantemente muçulmana seja normalmente tida como um modelo no mundo muçulmano, por sua bem-sucedida economia e moderna infraestrutura, tem se tornado cada vez mais fragmentada em linhas raciais nos últimos anos, com residentes das etnias chinesa, indiana, entre outras, demandando reformas para ampliar sua representação política no país. Os ativistas organizaram a manifestação deste sábado para que as demandas por mudanças no sistema eleitoral sejam de conhecimento público. Eles pedem por igualdade na cobertura da mídia dos candidatos de todos os partidos e medidas rígidas contra fraudes eleitorais, incluindo uma antiga prática que permite que as pessoas votem várias vezes. Não há eleições previstas para ocorrer no país até 2013, mas muitos analistas preveem que o primeiro-ministro, Najib Razak, que está no poder há vários anos, irá antecipar as eleições. Autoridades argumentam que o grupo por trás da manifestação, conhecido como Bersih ou "limpo", está indignado porque não está formalmente registrado e que sua intenção real é aumentar o número de partidos de oposição antes das eleições e ameaçar a ordem pública. Os líderes do Bersih dizem que seu grupo é uma coalizão de organizações registradas e, portanto, válida. Um porta-voz do governo disse que os manifestantes ignoraram os esforços das autoridades de conduzi-los para um local autorizado e que os policiais não tiveram outra opção senão tomar medidas para proteger os cidadãos comuns. O primeiro-ministro afirmou que os manifestantes representam apenas uma minoria da população e que contam com o apoio da maioria dos cidadãos. Nos dias que antecederam os protestos deste sábado, as autoridades policiais prenderam mais de 200 ativistas, levando a uma rara intervenção do monarca constitucional da Malásia, Tuanku Mizan Zainal Abidin, que emitiu um comunicado pedindo a ambos os lados para interromperem o conflito. A situação se acalmou e os líderes da organização do manifesto negociaram com as autoridades que o protesto ocorreria em um local aprovado pelo governo. Mas as negociações se romperam e o governo passou a alertar que não toleraria qualquer demonstração pública. O Bersih organizou um protesto anteriormente, em 2007, que meses depois fez a coalizão do governo Frente Nacional perder a maioria de dois terços no Parlamento da Malásia pela primeira vez em décadas. As informações são da Dow Jones.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.