Patrões e sindicatos brigam por aposentadoria

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Inúmeras greves com manifestações de rua. Isso acontece de tempos em tempos. Mas a desta quinta-feira na França é especial: os sindicatos uniram-se, o que é raríssimo. Todos eles deram a mesma instrução de greve: comunistas da Confederação Geral do Trabalho (CGT), reformistas da Força Operária (FO) ou da Confederação Francesa e Democrática do Trabalho (CFDT). Todos. Por que essa unanimidade? Por causa das aposentadorias. E por que as aposentadorias se tornaram o pivô da economia e da política? Porque a medicina fez enormes progressos, porque os homens vivem mais tempo e, no entanto, a idade da aposentadoria continua fixada em 60 anos. Portanto, segundo os demógrafos, a porcentagem dos "ativos" em relação aos "aposentados" ficará totalmente desequilibrada dentro de 10, 20 anos. Não se poderá mais despender somas tão elevadas para pagar aposentadorias aos cada vez mais numerosos velhos e aposentados. Esse diagnóstico ninguém contesta. Além disso, todos os países desenvolvidos enfrentam a mesma impossibilidade de financiar, no futuro, suas aposentadorias. As complicações não surgem, porém, do diagnóstico, mas da vontade de encontrar uma solução. Na França, o governo admite que é preciso reformar o regime das aposentadorias. Muito bem. Infelizmente, não fez nenhuma proposta. O patronato, então, pôs as cartas na mesa. Ele se beneficiou da inércia do governo para divulgar suas idéias. Que idéias? Alongar o tempo de trabalho que dá direito a uma aposentadoria plena, ou seja, passar a idade da aposentadoria no setor privado para mais de 60 anos. Isso significa que os assalariados devem contribuir para suas aposentadorias durante um período maior: 45 anos. Essas idéias são discutíveis. Pelo menos, constituem uma base para discussões com os sindicatos. Infelizmente, o patronato francês é dirigido por um homem muito bizarro: Ernest-Antoine Seillire, cujas atitudes, o terno, o sotaque e a vaidade parecem ter saído todos de uma caricatura do patrão do século 19 feita pelo desenhista Honoré Daumier. Sem dúvida, esse Seillire é inteligente, mas inflexível, arrogante, repugnante para discutir e tenta impor seus pontos de vista por meio de sucessivos "golpes de força". O que acaba de acontecer, uma vez que o patronato, antes mesmo de começar a negociar sobre as aposentadorias, anunciou medidas de represália: os patrões do setor privado foram incitados a não mais pagar uma parte das contribuições que garantem o pagamento das aposentadorias depois dos 60 anos. Pensavam, assim, intimidar os sindicatos. Mas tudo o que conseguiram foi juntar as centrais sindicais, que ordenaram a greve. E em torno de que idéia os sindicatos fizeram sua união? Obviamente, a de manutenção do status quo. Em manifestações de bombeiros nesta quinta-feira, em Lille, um homem teve a mão decepada por uma granada atirada pela polícia. Mais uma vez, vê-se como as propostas ideológicas são nefastas: o patronato partiu para essa batalha só para quebrar uma "conquista social" que ele detesta, a aposentadoria. Mas, ao contrário, os sindicatos tomaram uma atitude ameaçadora unicamente porque, do seu ponto de vista, o sistema de aposentadoria é uma vitória intocável. Ora, é verdade que esse sistema foi uma vitória há 10 ou 20 anos. Mas se não for reformado, essa vitória vai tornar-se uma catástrofe.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.