PC chinês abre seu congresso sob a sombra de escândalos

Encontro deve definir a maior troca de líderes na China em uma década em meio à derrocada de Bo Xilai e Liu Zhijun

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Por Felipe Corazza , CLÁUDIA TREVISAN , CORRESPONDENTE e PEQUIM
Atualização:

O Partido Comunista da China inicia hoje o congresso que definirá a maior troca de seus líderes em uma década sob a sombra de dois megaescândalos de corrupção, que colocaram o combate a irregularidades entre os principais temas que serão discutidos pelos 2.268 delegados que se reunirão em Pequim por uma semana.O porta-voz do congresso, Cai Mingzhao, disse ontem que os casos de Bo Xilai, ex-dirigente de Chongqing, e de Liu Zhijun, ex-ministro das Ferrovias, são exemplos de corrupção "severa" envolvendo integrantes da cúpula do partido. Segundo ele, as lições aprendidas em ambos os casos foram "extremamente profundas". O desafio diante da organização é limitar a ação de seus dirigentes em um sistema não democrático, no qual não há eleições, imprensa livre ou Judiciário independente. "A punição e a prevenção da corrupção são uma tarefa perene, complexa e árdua do partido", reconheceu Cai. Segundo ele, um dos objetivos do congresso será fortalecer os mecanismos de fiscalização para assegurar que o poder seja exercido "à luz do dia". Bo Xilai era forte candidato a ocupar uma das vagas no órgão máximo de comando da China, o Comitê Permanente do Politburo, que deve ter sua composição reduzida de nove a sete membros durante o congresso. A ascensão de Bo Xilai foi interrompida em fevereiro, quando seu ex-braço direito se refugiou no Consulado dos EUA em Chengdu e acusou sua mulher, Gu Kailai, de assassinar o empresário britânico Neil Heywood, em novembro. Detido desde março, o ex-dirigente de Chongqing será julgado sob acusação de corrupção e abuso de poder, em data a ser definida. Liu Zhijun foi ministro das Ferrovias por oito anos, durante os quais comandou o bilionário processo de construção de trens rápidos chineses. Afastado do cargo em fevereiro de 2011, ele é suspeito de receber pelo menos 800 milhões de yuans (R$ 260 milhões) em propinas.A eficácia do combate à corrupção depende em grande parte de reformas políticas que parecem ter ganhado peso na agenda do partido. O jornal Global Times, editado pela organização, publicou ontem pesquisa segunda a qual 81% dos entrevistados disseram apoiar mudanças nessa área.De acordo com o diário, 70% responderam que o governo deve aceitar maior supervisão do público e da imprensa. A corrupção apareceu em primeiro lugar na lista dos principais desafios que a China enfrentará nos próximos cinco anos para manter a estabilidade social, com 40% das respostas.O porta-voz do congresso afirmou que o país continuará o processo de reforma e abertura iniciado em 1978. Mas ele também deixou claro que o limite das mudanças é a manutenção do sistema de partido único e do monopólio de poder nas mãos da organização."A posição de liderança dos Partido Comunista da China é fruto de uma decisão feita pela história e pelo povo", ressaltou.O congresso vai definir as prioridades do partido para os próximos cinco anos, quando o próximo encontro será realizado. Além do combate à corrupção, a questão das reformas estará no centro das discussões.Depois de três décadas de crescimento anual média de 10%, o país enfrenta o desafio de reestruturar sua economia para garantir uma expansão sustentável no longo prazo. No campo político, não há nada radical na agenda. O objetivo é aprofundar a democracia interna do partido e criar mecanismos que institucionalizem e padronizem os procedimentos do governo e da organização.

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