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Pearl Harbor e os ataques contra Nova York e Washington

Por Agencia Estado
Atualização:

Quando a história contar o ataque terrorista desta terça-feira contra "edifícios símbolos" dos poderes financeiro, político e militar dos Estados Unidos, talvez diga que houve falhas de inteligência e segurança. De novo. Durante o ataque japonês a Pearl Harbor, há 60 anos, uma frota de navios de guerra ancorados ao longo da área sul da Ilha Ford foi torpedeada e bombardeada, enquanto as pistas de pouso, aviões e hangares da Marinha dos Estados Unidos eram destruídos um atrás do outro. Muitos foram os fatores que levaram a esse ataque de 60 anos atrás, mas dois são apresentados como os mais críticos: falha dos serviços de inteligência e falta de aparatos de segurança. Mas em Pearl Harbor o ataque foi desfechado contra um setor dos Estados Unidos, o militar, o qual a subseqüente guerra mundial acabaria fazendo consolidar sua hegemonia mundial. Por outro lado, nos ataques de hoje em Nova York e Washington, os Estados Unidos foram feridos em várias áreas. - A financeira, com a demolição das torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. - O militar, com a destruição parcial do Pentágono, a sede de comando mais protegida do mundo. - O político, com um carro-bomba explodindo na frente do Deparamento de Estado, o centro da política externa norte-americana. - A liberdade e a democracia, como valores sociais e políticos promovidos pela Casa Branca e o Congresso, cujos prédios tiveram de ser esvaziados e fechados por ameaças de bomba. "Hoje tivemos uma tragédia mundial", disse um compungido presidente George W. Bush. Com outras palavras, de mesmo significado, o presidente Franklyn D. Roosvelt recebeu o informe do ataque a Pearl Harbor: "Nunca esquecerei este dia." Quando a fumaça se dissipou da ilha havaiana, 21 navios de guerra haviam sido afundados ou danificados e cerca de 2.400 pessoas estavam mortas. O ataque destruiu 188 aviões e avariou outros 159. Quando a poeira baixar dos locais de onde se erguiam as imponentes torres do World Trade Center e a parte destruída do Pentágono, o saldo será novamente de horror. Em Nova York, o prefeiro Rudolph Giuliani disse que haverá "um horroroso número de perdas de vida". Em Washington, porta-vozes militares disseram: "Teremos um bom número de baixas". Os ataques de hoje também tiveram outro elemento comparável ao de Pearl Harbor: os camicases, ou pilotos suicidas, que atuaram como bombas voadoras japonesas. Em Nova York e Washington houve atacantes suicidas que levaram seus aviões como camicases até seus alvos. Desta vez não foram aviões militares, mas civis, com passageiros a bordo, seqüestrados pelos atacantes. Numa seqüência de terror, um a um eles se chocaram contra as torres de Nova York e um terceiro contra o Pentágono. As empresas American Airlines e United Airlines, também símbolos do poderio aéreo comercial dos Estados Unidos, perderam dois aviões cada. Os da American transportavam ao todo 160 pessoas. Os da United, um dos quais caiu em terra no Estado de Pensilvânia, 110. "A própria liberdade foi atacada esta manhã", disse Bush. "E a liberdade será defendida". Logo depois do ataque a Pearl Harbor, Roosvelt prometeu o mesmo. O Japão rendeu-se em 15 de agosto de 1945, pouco depois de que bombas atômicas norte-americanas destruíram as cidades de Hiroshima e Nagasaki. "O que teremos daqui em diante será um país com uma sensação de desconfiança", disse Wesley Clark, general norte-americano ex-comandante das forças da Otan. "A vida nunca mais será igual ao que era até hoje." Clark afirmou que a única certeza que havia sobre os ataques era que "foram bem coordenados". A coordenação foi minuciosa. Os especialistas destacam que a mente por trás dos ataques parece ter seguido um roteiro de cinema, tendo considerado todos os aspectos do terrorismo: precisão, seleção perfeita de alvos, terror civil, morte e exploração dos meios de comunicação. O primeiro avião colidiu por volta das 8h45 com a torre norte do World Trade Center. Quase meia hora depois, quando todos os meios de comunicação, especialmente a televisão, transmitiam ao vivo o incêndio provocado, aparece em cena um segundo avião que se choca contra a torre sul. O espetáculo chega ao vivo para todo o mundo. As explosões que se seguem parecem criação de Holywood. Talvez milhares de pessoas estavessem nos edifícios no momento. O terror é espalhado para todo o mundo, ao vivo e em cores. E meia hora depois, quando todo o país achava que tinha visto horror suficiente, Washington é atacada - um terceiro avião com passageiros caiu sobre o Pentágono. Em seguida, um carro-bomba explode na frente do Departamento de Estado. Outro avião cai num ponto intermediário entre Washington e Nova York. Existem suspeitas de que a aeronave seria usada para atacar Camp David, a residência de repouso dos presidentes norte-americanos. São suspensos os vôos e fechados os aeroportos. Esvaziam a Casa Branca e o Capitólio. Pessoas correm pelas ruas das duas cidades em meio a veículos parados e agentes armados. A nação entra em crise. Bush está na Flórida. O secretário de Estado Colin Powell em Lima. Bush anuncia seu retorno a Washington. Mas seu avião é desviado para Louisiana, depois para Nebraska e finalmente para Washington. Um piloto civil jogaria seu avião com passageiros contra alvos civis? Fontes da indústria aeronáutica dizem ser improvável. Um piloto comercial está sempre disposto a jogar seu avião em qualquer lugar onde cause menos danos possíveis em terra. Assim, os aviões que se dirigiam a Nova York teriam sido jogados na Baía de Brooklyn, e o que seguia para Washigton, no Rio Potomac. Por isso, acredita-se que os pilotos já estivessem mortos ou dominados pelos seqüestradores. E o avião que caiu em Pittsburgh possivelmente teve este destino porque o piloto não tinha outra alternativa ao saber que o avião se transformaria numa arma terrorista. Aqueles que controlaram os aviões até seu destino final talvez nunca sejam identificados. Mas ninguém duvida que eles sabiam muito bem onde bater seus aparelhos em Nova York e Washington para causar a destruição que causaram. Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA que foi o principal estrategista da política norte-americana na segunda metade da Guerra Fria, o qualificou como um "ataque integral", que deve receber uma "resposta integral". Segundo Kissinger, qualquer grupo capaz de executar um ataque coordenado desta natureza deve ter recursos substanciais, grande capacidade de organização e sede de planejamento. "Isto não é algo que se pode fazer no quarto dos fundos."

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