Pelo diálogo, Farc contiveram atentado contra presidente

Líder da guerrilha morto em 2011 ordenou fim do plano contra Santos para não prejudicar conversações de paz, diz Timochenko

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CARACAS - O líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko, revelou ontem que alguns anos atrás o grupo guerrilheiro desarticulou um plano de atentado contra o presidente Juan Manuel Santos para poder levar adiante o diálogo de paz com o governo.

Rául Castro entre o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e o líder das Farc, Timochenko (D) Foto: REUTERS/Alexandre Meneghini

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O atentado contra o presidente colombiano tinha sido planejado antes da morte do líder das Farc, Guillermo León Sáenz Vargas, conhecido como Alfonso Cano, abatido em novembro de 2011 em uma operação militar colombiana. Antes de morrer, no entanto, Cano ordenou que o plano fosse abortado, revelou Timochenko em entrevista ao canal Telesur.

“Naquela época, um de nossos comandos informou que havia condições para lançar o atentado contra o presidente Santos, mas Alfonso foi categórico: ‘se estamos dialogando isso não é válido, desmontem tudo’, foi uma ordem sem direito a discussão”, relatou.

Segundo Timochenko, Cano tinha entusiasmo para alcançar um acordo de paz com o governo, o que fez com que “baixasse um pouco a guarda”, algo que “incidiu muito em sua morte”. “Nesse caso, o presidente Santos tem de perceber que cometeu um enorme erro político”, disse, referindo-se à morte de Cano em um cerco denominado “Operação Odisseia”. 

O atual líder máximo das Farc negocia um acordo de paz com o governo, em Havana. As partes se comprometeram em concretizá-lo em no máximo seis meses, um passo que, segundo Timochenko, o deixa “satisfeito”.

“Satisfeito no sentido de que o esforço que temos feito, no qual os setores na Colômbia estão apostando, está crescendo e as pessoas o estão entendo melhor”, disse. Ele acrescentou que isso também faz com que “tenhamos de caminhar com muito mais cuidado, pois ainda não chegamos à paz, pois ainda não assinamos o acordo”. 

O líder guerrilheiro afirmou que com disposição suficiente poderão firmar os acordos antes mesmo de seis meses, mas sem essa vontade esses meses poderiam ser curtos para alcançar um acordo. “Pode ser que não alcancemos o acordo final, pois as questões de agora vão decidir se realmente há uma intenção política de enfrentá-las”, disse.

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Timochenko também disse que o acordo “não é a paz”, mas um ponto de partida. Ele considerou que o “fundamental” é criar um ambiente no qual “possamos travar todas essas lutas sem trocar tiros”.

“O que necessitamos agora é semear a esperança, necessitamos não deixar brotar as sementes que reproduzam novamente a guerra, não vamos deixar o terreno fértil para uma nova confrontação”, disse. Ele também explicou que sua organização realizou “uma reunião de consulta” entre seus membros antes de participar das discussões, por isso “não há um único guerrilheiro que tenha manifestado seu desacordo”.

Timochenko disse ter consciência de que “a reconciliação não vai ser fácil” em razão “das feridas” do conflito, mas afirmou que é parte da “dinâmica da guerra”. Questionado sobre se pedirá perdão às vítimas do conflito, Timochenko disse que não, pois não se arrepende.

“Quando alguém pede perdão é porque se arrepende de ter feito algo, e eu não me arrependo do que quer que eu tenha feito”, disse. Ele acrescentou ser possível que “em um determinado momento analisemos um fato no contexto em que ocorreu e dizemos que aí cometemos um erro na decisão tomada”, disse. Cerca de 220 mil pessoas foram mortas em quase 50 anos de conflito na Colômbia. / EFE

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