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Pequim se veste de vermelho para o congresso do PC

Por Agencia Estado
Atualização:

Vestida de vermelho, a cada vez mais ocidentalizada capital da China se preparava hoje para receber um histórico congresso do partido comunista, colocando bandeiras e lanternas na Praça da Paz Celestial e reforçando a segurança, enquanto a nação em transição se preparava para a chegada de uma nova geração de líderes. "Pequim está pronta", anunciou o Diário do Povo, órgão do Partido Comunista, um dia antes da inauguração do 16º Congresso do PCC. "A capital à noite parece resplandecente e brilhante em todos os lugares". Mas, mesmo enquanto a mídia controlada pelo governo enaltece o dinâmico progresso da China, o congresso permanece envolto em segredo. Pedidos de reformas chegavam de dentro e fora do país. Ativistas aproveitaram o momento para apresentar suas posições. Durante o congresso, realizado a cada cinco anos, o presidente Jiang Zemin, de 76 anos, deve se aposentar como secretário-geral do partido e deixar o cargo para o vice-presidente Hu Jintao, 59 anos, que, muitos acreditam, também irá substituir Jiang como presidente no ano que vem. Jiang chegou ao topo do partido em 1989, com a bênção de Deng Xiaoping, que deu início às reformas econômicas do país depois que Mao Tsé-tung, fundador da China comunista, morreu em 1976. Os delegados também devem mudar a Constituição da China, a fim de refletir o convite feito por Jiang, no ano passado, aos empreendedores para entrarem no Partido Comunista, criado 81 anos atrás como a "vanguarda da classe trabalhadora". O Congresso é realizado no momento em que a China se encontra envolta numa transição sistêmica, de uma economia planejada comunista para uma outra, movida pelo lucro, e empenhada na extensão das reformas introduzidas, duas décadas atrás, por Deng. Alguns chineses são hoje muito mais ricos do que antes, mas muitos outros perderam os empregos que tiveram por uma geração. As reformas transformaram a sociedade chinesa numa mistura sem precedentes de slogans comunistas com um comércio de estilo ocidental que o governo chama de "economia de mercado socialista" - um sistema que marca mudanças fundamentais no (e possivelmente o eventual fim do) comunismo na China. Mas será difícil perceber isso nesta semana em Pequim, onde a mensagem cuidadosamente lapidada é a do comunismo chinês acertando o passo com tempos de mudança. O governo afirma esperar que a publicidade em torno do Congresso sublinhe os largos passos à frente dados pela China - sua aplicação do princípio de Deng de "gaige kaifang", ou "reforma e abertura". "Esperamos que o mundo tenha um quadro completo da China", disse nesta semana o porta-voz do Ministério do Exterior, Kong Quan. A mídia estatal estava hoje repleta de matérias sobre os preparativos, enquanto os membros do partido chegavam a Pequim e os hotéis acrescentavam ao cardápio receitas especiais para delegados de minorias étnicas. Veículos do partido passaram por estritas inspeções e, segundo o governo, estão "até mesmo decorados e embelezados com flores". A agência oficial de notícias Nova China divulgou que a capital foi tomada por "uma febre de leitura vermelha", com publicações comunistas sendo compradas avidamente pelo público. Os cinemas passam filmes comunistas. "Os universitários adoram estudar a história do partido", garante o Diário da Juventude, de Pequim. A China convidou repórteres estrangeiros para cobrir o congresso e abriu um luxuoso centro de mídia, repleto de publicações enaltecendo as linhas partidárias. Até quarta-feira, 1.375 jornalistas, chineses e estrangeiros, haviam se credenciado para cobrir o Congresso, disseram autoridades. Ainda assim, imperam o segredo e a sensibilidade. Ruas foram fechadas e sirenes soam em todo o centro de Pequim, enquanto muitas das agências de segurança do país deslocam seus oficiais. Mesmo a data de encerramento do Congresso era guardada a sete chaves até hoje, quando foi anunciado o dia 14 de novembro. "Quando ele terminar, vocês saberão que acabou", havia dito Kong, no começo da semana. Um grupo de 192 dissidentes políticos dentro da China, numa carta aberta divulgada nesta semana, exortaram os delegados a libertarem prisioneiros políticos e a expandirem as eleições diretas. "Melhorias no desenvolvimento econômico não podem encobrir problemas mais e mais óbvios de profundo perigo social", disseram. Esta semana, uma sessão plenária do atual Comitê Central do PCC, de 325 membros, foi realizada em Pequim para preparar o Congresso. Envolta em segredo, ela foi concluída na terça-feira com um vago comunicado que pareceu ser um adeus à atual liderança. "As tremendas realizações dos últimos 13 anos irão sem dúvida ser gravadas na gloriosa história da grande revigoramento da nação chinesa", afirmou. "E a preciosa experiência acumulada nos últimos 13 anos terá significado de longo prazo na orientação da causa da construção do socialismo com características chinesas".

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