O medo da repressão pelas tropas de Nicolás Maduro, que se intensificou após a crise militar de 30 de abril, com a forte reação do governo da Venezuela aos protestos, mudou a ação da oposição liderada pelo autoproclamado presidente Juan Guaidó. “Milhões de pessoas iguais a mim têm esperança na mudança”, disse ao Estado o motorista José Hernández, pai de Yhoifer Jesús Hernández Vasquez, de 14 anos, que morreu no dia 2, após ter sido baleado durante manifestação no dia 1.º de Maio.
Na primeira semana de repressão policial, a Venezuela registrou pelo menos outras quatro mortes em protestos. Na ocasião, o líder opositor Leopoldo López deixou a prisão domiciliar graças a deserções no comando do serviço de inteligência (Sebin). López está refugiado na Embaixada da Espanha em Caracas.
No início da tarde do dia 1.º, segundo dia dos protestos, a manifestação na região da Base Aérea La Carlota, ponto da frustrada tentativa de tomada do poder pela oposição, se transformou em repressão.
Blindados da polícia fizeram carga sobre manifestantes no acesso à Praça Altamira, em Chacao, região metropolitana da capital. Na confusão, que deixou dezenas de feridos, Yhoifer foi atingido. Levado à Clínica Ávila, não resistiu.
Desde aquele dia, o pai do menino, que estava com o filho no protesto, não se separa de uma imagem de Yhoifer, registro da última visita de ambos à praia. “Nesta foto, meu filho está feliz”, disse Hernández, que conserva a imagem no celular. Apesar do luto pela perda do único filho, o motorista mantém esperança em mudanças políticas na Venezuela.
“Estamos no período de rezas (novena), de luto e devo deixar passar um tempo. Mas espero que não seja muito”, disse, reafirmando apoio aos protestos de rua. Yhoifer foi enterrado no dia 4. A família vive em La Urbina, periferia da capital, em um condomínio de classe média ao lado da Igreja de Corpus Christi, local da novena após a missa das 17 horas. Na quadra da igreja, o garoto jogava futebol com amigos.
O motorista lamenta que os jovens venezuelanos sejam vítimas da repressão. “Eles são aqueles que estão dando a vida na luta, quando eles não têm culpa de nada. Porque, quando nasceram, este governo já estava aí”, argumentou. O chavismo completa 20 anos, somando os governos de Maduro e de Hugo Chávez, líder do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que chegou ao poder em 1999.
Sobre a continuidade dos protestos diante da violência da polícia e da vigilância constante das milícias chavistas, José Hernández recomenda “cuidado” aos jovens que enfrentam o regime. “Recomendo que se cuidem. E, para as pessoas que vão às manifestações, que cuidem de seus filhos, porque os que estão do outro lado não se importam com isso.”