Perda de patrimônio cultural amplia catástrofe em Áquila

Entre relíquias e monumentos danificados, castelos e igrejas erguidos na Idade Média

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Por Marta Falconi e Ariel David
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Construída como uma fortaleza nos Montes Apeninos durante a Idade Média, Áquila era uma joia cultural no centro da Itália que havia resistido a vários cercos e batalhas. Mas muitos dos tesouros arquitetônicos que abrigava foram gravemente danificados pelo terremoto da madrugada de ontem. O centro histórico da cidade, cujos edifícios representam alguns dos mais importantes estágios da arquitetura ocidental - românica, gótica, renascentista, barroca -, foi reduzido em grande parte a escombros. "Os danos são mais graves do que é possível imaginar", afirmou Giuseppe Proietti, funcionário de alto escalão do Ministério da Cultura de Roma. "O centro foi devastado." Embora não seja um centro turístico tão conhecido como Florença ou Veneza, a cidade de 70 mil habitantes, construída em um vale e cercada por montes cobertos de neve, tem antigas fortificações, castelos, igrejas e túmulos de santos. Em Áquila foi rodado o filme O Nome da Rosa. Especialistas já tratavam de avaliar os prejuízos culturais, apesar de os próprios escritórios dos bens culturais da cidade, instalados em um castelo espanhol do século 16, tivessem sido fechados pelos desmoronamentos, disse Proietti. Até ontem, o castelo estava perfeitamente preservado. Ele abriga também um museu de arqueologia e arte, com obras da pré-história à Idade Moderna. Áquila, que significa "águia", foi erguida por volta de 1240 pelo imperador Frederico II, do Sacro Império Romano, e, ao longo dos séculos, foi dominada por franceses, espanhóis e pelo próprio Estado Papal. A ave que voa nas alturas era o emblema de Frederico e refere-se à altitude em que a cidade foi construída, 714 metros acima do nível do mar. A cidade é capital da região de Abruzzo, área montanhosa que abriga parques nacionais e cidadezinhas espalhadas pelos topos das montanhas. Em 1943, logo após ter sido derrubado, o ditador fascista Benito Mussolini (1922-1943) ficou brevemente preso em um hotel isolado no Maciço do Gran Sasso, próximo de Áquila, do qual foi libertado em uma incursão realizada por seus aliados alemães. O Ministério da Cultura procurava ontem fazer um levantamento dos danos às construções históricas, entre as quais estão campanários e cúpulas das igrejas da cidade. Parte da Basílica de Santa Maria de Collemaggio, em pedras vermelhas e brancas, ruiu. Na igreja está o túmulo de seu fundador, o papa Celestino V - um ermitão e santo do século 17, único pontífice a renunciar ao trono papal. O campanário da Igreja de São Bernardino, do século 16, e a cúpula da igreja barroca de Santo Agostinho também ruíram, informou o ministério. A catedral da cidade, que foi reconstruída depois do terremoto de 1703, foi muito atingida. Proietti falou em entrevista por telefone que as primeiras notícias procedentes da área rural indicavam que muitas aldeias ao redor de Áquila foram gravemente danificadas, bem como igrejas "de grande interesse histórico". O tremor também causou prejuízo histórico na capital italiana, Roma, 110 quilômetros a sudoeste de Áquila. Os Banhos de Caracalla - banhos públicos romanos construídos entre os anos 212 e 216 - sofreram alguns danos. A relíquia, porém, foi o único tesouro histórico romano danificado. Proietti acrescentou que os danos culturais, "muito provavelmente", serão da mesma magnitude dos provocados pelo terremoto ocorrido na vizinha região da Úmbria, em 1997, que matou dez pessoas e devastou dezenas de edifícios e igrejas medievais, como a famosa Basílica de São Francisco de Assis. PASSADO EM RUÍNAS Centro histórico de Áquila: Alguns edifícios da Idade Média foram reduzidos a escombros Cúpulas de igrejas: Parte da Basílica de Santa Maria de Collemaggio, da Igreja de São Bernardino e a cúpula da Igreja de Santo Agostinho não resistiram ao tremor Banhos de Caracalla (Roma): Construídos entre 212 e 216, foram gravemente danificados

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