Perfil: Evo Morales, uma raposa política com dificuldades para se manter no poder

Presidente latino-americano há mais tempo no cargo busca quarto mandato em uma eleição difícil

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Por Redação
Atualização:

LA PAZ - Evo Morales é o presidente latino-americano há mais tempo no poder e quer continuar assim. Há 13 anos mostra sua astúcia política, empatia com os pobres e bom gerenciamento dos lucros da exportação de matérias-primas para China.

Evo, de 59 anos, assumiu em janeiro de 2006 como o primeiro mandatário indígena da Bolívia Foto: Manuel Claure / Reuters

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Em suas reuniões, continua acompanhado de xamãs, que realizam cerimônias andinas enquanto ele inicia os trabalhos. No entanto, a poucos dias das eleições gerais, realizadas no domingo, sua sorte parece estar se esgotando.

Evo, de 59 anos, assumiu em janeiro de 2006 como o primeiro mandatário indígena da Bolívia, em meio a uma onda de vitórias da esquerda, que atravessou a região com a mudança de milênio. 

Seus companheiros de ideologia foram ficando pelo caminho, no Brasil, Argentina e Equador. A Venezuela, com quem Evo mantém um vínculo estreito, está mergulhada na pior crise política e econômica de sua história recente.

Governante de origem aymara e leal aliado político de Cuba e da Venezuela busca no domingo seu quarto mandato Foto: Manuel Claure / Reuters

"Mas a Bolívia é diferente, estamos bem", diz Evo e assim repetem seus partidários nas ruas. "Pedimos mais cinco anos para aproveitar nossa experiência (...). Não me abandonem", é seu mantra nos últimos dias da campanha para uma eleição difícil.

O governante de origem aymara e leal aliado político de Cuba e da Venezuela busca no domingo seu quarto mandato, um verdadeiro recorde na Bolívia desde a independência do país em 1825. 

Seu principal adversário é o ex-presidente, jornalista e ex-porta-voz da disputa marítima com o Chile, Carlos Mesa.

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Raposa política

Os opositores veem em Evo um caráter teimoso, o que o impede de reconhecer seus erros, e o acusam de incorporar um governo antidemocrático que está empurrando o país para ser uma "segunda Venezuela" na região. 

Já os seus partidários o atribuem quase o dom da infalibilidade. É uma raposa política, que conseguiu aproveitar principalmente a prosperidade econômica do país, após decretar a nacionalização dos hidrocarbonetos, poucos meses depois de assumir o poder.

O vice-presidente, Álvaro García, que acompanha Evo desde 2006, garantiu, no fim de 2013, que "o presidente Evo é a unidade do corpo de Túpac Katari (líder aymara desmembrado em 1781) e "a ressurreição do povo indígena". Foi Katari quem disse a famosa frase, antes de ser esquartejado: "Só vão me matar, mas amanhã voltarei e seremos milhões".

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Em 2018, Evo abriu a "Casa Grande del Pueblo", um arranha-céu de 29 andares com heliponto que chama atenção no centro histórico de La Paz, substituindo o Palácio Quemado, centro do poder político desde o século 19, como a nova sede presidencial. O local é conhecido na Bolívia como "Palácio de Evo".

De criador de lhamas a presidente

Evo conheceu a pobreza desde que nasceu, no dia 26 de outubro de 1959, no povoado de Isallavi, na região andina de Oruro. Criador de lhamas quando criança e depois vendedor de sorvete, fabricante de tijolos e trompetista de um grupo de música local, chegou a Chapare, coração cocaleiro da Bolívia, para se dedicar ao cultivo.

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Evo não chegou à universidade e têm grandes problemas para ler um discurso em público Foto: Manuel Claure / Reuters

Acabou se envolvendo no meio sindical, onde começou sua carreira política em 1995, como deputado nacional. Em 2002 lançou pela primeira vez sua candidatura à presidência, alcançando o segundo lugar.

Quatro anos depois, em 2006, derrotou nas urnas o candidato da direita, Jorge Quiroga, com 54% dos votos, e chegou à presidência. 

Em 2008, durante uma entrevista para a imprensa estrangeira, Evo disse que quando era criança, aos 11 ou 12 anos, sonhou que voava por sua terra natal. Ao contar o sonho a seu pai, ele disse: "Evito, você vai ficar bem, respeite os maiores e menores, você vai bem em teu futuro".

Evo não chegou à universidade e têm grandes problemas para ler um discurso em público. Prefere improvisar e repetir frases sobre o sucesso econômico de seu governo, a estabilidade política e os inimigos internos (a direita) ou externos (os Estados Unidos) que "o perseguem". Pairam sobre ele, após quase 14 anos no poder, denúncias de corrupção no governo. / AFP

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