Perguntas e Respostas: um ano do governo López Obrador no México

Presidente esquerdista assumiu país em dezembro de 2018 com promessa de transformações. Como ele está se saindo?

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Por Mark Stevenson e AP
Atualização:

Andrés Manuel López Obrador assumiu a presidência há um ano, prometendo transformar o México. Ele se concentrou na austeridade e no combate à corrupção. E prometeu uma presidência próxima ao povo, sem privilégios para os funcionários, com punição para os corruptos, segurança e bem-estar econômico para todos. 

Um ano depois, como López Obrador está se saindo?

1. Qual o ritmo de trabalho de López Obrador?

Presidente do México, Andrés Manuel López Obrador Foto: Jorge Duenes/REUTERS

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A agenda diária de López Obrador em seu primeiro ano impõe esforços quase sobre-humanos para um senhor de 66 anos com histórico de problemas cardíacos e pressão alta. Ele não se sentou nenhuma vez durante as 255 entrevistas coletivas matinais, cada uma com duração média de duas horas. Em mais de 500 horas respondendo a perguntas da imprensa, nunca tomou nem um gole de água. Velho fã de restaurantes gordurosos de beira da estrada, até parou de postar fotos de si mesmo comendo.

2. Trouxe prosperidade?

O México pode não estar mais rico, mas a riqueza foi distribuída um pouco melhor. Os três primeiros trimestres de seu governo foram marcados por crescimento zero do PIB. López Obrador aumentou o salário mínimo, embora ainda seja um mínimo de US $ 5 por dia. O que ele fez foi priorizar os setores mais pobres, especialmente os indígenas, nas bolsas de estudos, programas de treinamento, subsídios agrícolas e pagamentos a idosos.

3. Controlou o crime e a violência?

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López Obrador diz que se reúne com seu gabinete de segurança todos os dias, às 6 horas, e que o combate à criminalidade é sua principal prioridade. Mas a taxa de assassinatos no México subiu 2% nos primeiros 10 meses de seu primeiro ano no cargo, para níveis altíssimos. Ele também foi criticado por ordenar que o Exército e a nova força da Guarda Nacional evitassem confrontos, mas diz que sua estratégia é resolver os problemas sociais subjacentes que levam as pessoas ao crime. Nesse mesmo período, a detenção de traficantes diminuiu e as apreensões de cocaína, heroína e metanfetaminas caíram, em comparação com o ano anterior.

4. Cumpriu a promessa de austeridade?

Ele cortou o próprio salário, recusou-se a viver no imenso complexo presidencial e viaja na classe econômica de voos comerciais. Cortou vantagens para funcionários do governo e montou leilões de artigos de luxo apreendidos de traficantes de drogas e fraudadores tributários, revertendo o lucro às cidades mais pobres do México. O lado negativo de sua austeridade são os cortes orçamentários, que deixaram hospitais sem medicamentos e funcionários durante algum tempo. O chefe do Departamento do Meio Ambiente reclamou publicamente que o orçamento de sua pasta para 2020 era menos da metade do que fora em 2015. Também houve cortes acentuados no judiciário, na agência eleitoral federal e na agência federal de liberdade de informação.

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5. Esteve perto do povo?

Quase perto demais. Viaja de carro sempre que possível, colocou o jato presidencial à venda e gosta de parar e cumprimentar as pessoas na estrada. Mas ele às vezes perdia o contato com o resto do governo, por causa da cobertura irregular de celulares na zona rural do México. Desde então, instalou um sistema de telefone via satélite em um de seus veículos. Ainda assim, em alguns momentos importantes, como um tiroteio com cartéis de drogas em Culiacan, em outubro, ficou fora de contato porque estava em viagem. Ele visita o interior constantemente: esteve em mais de 80 hospitais rurais em vilarejos agrícolas de todo o país, além de 19 comunidades indígenas e dezenas de vilas e cidades. Isso contrasta com o número de viagens ao exterior: zero.

6. E a relação com os Estados Unidos?

Sim, mas, para agradar ao presidente Donald Trump, isso significou reprimir os migrantes da América Central que viajam pelo México. Trump ameaçou estipular tarifas sobre produtos mexicanos, caso não fosse atendido. No momento, López Obrador gostaria muito que o Congresso dos EUA ratificasse o acordo comercial EUA-México-Canadá, mas o texto está parado em razão das preocupações democratas com os baixos padrões trabalhistas do México.

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7. Ele uniu o México?

Não. O México está bastante polarizado. López Obrador está acostumado a usar uma linguagem forte, especialmente em relação aos conservadores, que ele já chamou de “hipócritas”, “corruptos”, “avarentos”, “arrogantes” e “sabichões de duas-caras”. E tem sido igualmente duro com aquilo que descreve como “imprensa frívola”, “conservadora”, e a qual, afirma ele, “distorce tudo”. Ele chamou alguns meios de comunicação social de “nossos adversários” e “cafetões”. Estranhamente, nas 255 entrevistas que concedeu desde que assumiu o cargo em 1.º de dezembro, Lopez Obrador disse pouquíssimas palavras duras sobre os traficantes de drogas. Ainda que várias pesquisas apontem que sua aprovação caiu cerca de 10 pontos porcentuais desde que assumiu a presidência, López Obrador continua bem cotado por cerca de dois terços da população. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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