PUBLICIDADE

Peru convoca embaixador na Venezuela

Por Agencia Estado
Atualização:

A prisão do ex-chefe do serviço secreto peruano, Vladimiro Montesinos, teve hoje seu primeiro grande desdobramento político regional: uma crise diplomática entre os governos do Peru e da Venezuela, desencadeada pela decisão do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de retirar na noite de quinta-feira o embaixador de seu país em Lima, Gustavo Gómez. Como resposta, o governo peruano fez o mesmo, chamando de volta seu embaixador em Caracas, Luis Marchand. Pivô do escândalo de corrupção que levou à derrocada do presidente Alberto Fujimori, Montesinos foi detido no sábado na Venezuela, onde estaria escondido desde dezembro, sob proteção de autoridades. Ele foi deportado segunda-feira para Lima, após uma caçada confusa da qual tomaram parte o FBI (a polícia federal norte-americana), policiais peruanos e um guarda-costas de Montesinos, que o traiu. Em discurso transmitido ao vivo em rede nacional de rádio e TV, Chávez acusou o Peru de ter agido "pelas costas do governo soberano da Venezuela" para montar uma operação unilateral e insistiu em que, por trás de tudo, está uma conspiração internacional para derrubá-lo, capitaneada por ex-presidentes venezuelanos, seus inimigos. Ele afirmou que esse complô visa a castigá-lo porque a Venezuela não se somou à corrente mundial da "globalização" e do "neoliberalismo". Mas disse esperar que o presidente eleito do Peru, Alejandro Toledo, "ponha as coisas no lugar", após sua posse, no fim de julho. "Fomos vítimas de uma verdadeira agressão verbal", rebateu o primeiro-ministro e chanceler peruano, Javier Pérez de Cuellar. "Nós não respondemos a provocações com provocações. A reação do Peru é uma reação firme, enérgica e imediata", afirmou. Toledo expressou apoio à decisão do Peru, embora enfatizando que aguarda a rápida normalização das relações bilaterais. A crise intensificou-se depois que o ministro do Interior do Peru, Antonio Ketín Vidal - o encarregado de levar Montesinos de Caracas a Lima - deu uma entrevista na quarta-feira confirmando a participação crucial do FBI na localização do ex-chefe de inteligência. A Venezuela nega que o FBI e o Peru tenham tido papel vital na captura, mas na imprensa e nos meios políticos locais é dado como certo que Montesinos não teria condições de ficar tanto tempo no país se não contasse com proteção oficial. A Assembléia Nacional nomeou uma comissão para investigar se houve conivência do governo. Líderes oposicionistas - entre os quais o ex-presidente Carlos Andrés Pérez - acusam o presidente e a alta cúpula militar de terem dado guarida a Montesinos porque, após uma fracassada tentativa de golpe na Venezuela, em 1992, vários oficiais buscaram abrigo no Peru de Montesinos. A insurreição era liderada por Chávez.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.