Uma nova pesquisa de intenção de voto esquentou o ambiente político peruano ao colocar o nacionalista Ollanta Humala na frente da conservadora Lourdes Flores três semanas antes das eleições presidenciais. Segundo a sondagem do instituto Apoyo divulgada no domingo, Humala conta com 32% das preferências contra 28% atribuídos a Flores. Analistas afirmam que o ex-tenente-coronel do Exército tem ganho respaldo ao se distanciar dos políticos tradicionais, considerados corruptos por muitos peruanos. "Humala conseguiu uma forte identificação emocional com vários setores da população que se sentem frustrados com o ritmo de crescimento do país, com a exclusão social e com a marginalidade", explicou Alfredo Torres, diretor do Apoyo. Tem havido, continuou, uma polarização cada vez mais acentuada entre as posições de Flores, aberta aos investimentos estrangeiros, privatizações e radicalização do livre mercado, e as de Humala, que adianta que renegociará contratos com empresas estrangeiras a fim de buscar uma participação estatal majoritária. Ele também quer que o Estado seja sócio majoritário nas áreas de hidrocarboneto, mineração e serviços públicos. Humala não esconde sua proximidade com os presidentes venezuelano, Hugo Chávez, com quem comparte opiniões sobre i integração da América do Sul, e o boliviano, Evo Morales, as maiores preocupações dos Estados Unidos na região. Analistas políticos e econômicos temem que a candidatura Humala desestabilize o país, afugentando investidores ou resultando num governo como o de Chávez. Em conseqüência, a bolsa de Lima vez registrando quedas desde que Humala começou sua escalada nas pesquisas, em dezembro. O dólar se mantém em alta, assim como o risco país - que saltou de 230 pontos em 10 de março para 280 em 17 de março. Mas Daniel Abugattas, porta-voz de Humala, garantiu que seu Partido União pelo Peru "é absolutamente democrático, respeita a liberdade de imprensa e todas as liberdades ideológicas". Humala, por seu lado, recebeu o resultado da pesquisa "com humildade" e disse que "as verdadeiras pesquisas estão nas ruas". Um alarmado diário El Comercio fez hoje um chamado a seus eleitores num editorial de primeira página sob o título: "Chegou a hora de fazer avançar a democracia". O jornal alertou para "a possibilidade de um candidato sem credenciais democráticas chegar ao poder e acabar com o sistema democrático", numa alusão a Humala. Aparentemente, Humala não tem sido afetado por acusações de supostas violações dos direitos humanos ocorridas em 1992, quando o ex-militar comandava um grupo anti-subversivo. Flores afirmou que continuará combatendo as propostas de Humala até as eleições de 9 de abril e esperar convencer os indecisos, cerca de 25% do eleitorado.