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Petróleo em queda freia Chávez

Diminuição na arrecadação e tropeços da PDVSA prejudicam planos do chavismo dentro e fora da Venezuela

Por Simon Romero
Atualização:

O esforço do presidente venezuelano, Hugo Chávez, para ampliar sua influência na América Latina está enfraquecendo em meio à baixa dos preços do petróleo e às desordens do próprio setor energético da Venezuela. Nos últimos anos, Chávez usou a riqueza do petróleo venezuelano para impulsionar sua agenda de inspiração socialista em casa e atrair outros países da região para sua esfera de influência, ajudando a consolidar uma guinada política para a esquerda em alguns países da América Latina. Entretanto, mais de uma dezena de grandes projetos concebidos para ampliar sua influência caíram no limbo - incluindo um gasoduto atravessando o continente e pelo menos oito refinarias, da Jamaica ao Uruguai - na medida em que a Venezuela se vê às voltas com uma queda de arrecadação e outros problemas em sua estatal petrolífera, a PDVSA. A Venezuela também está reduzindo drasticamente outros tipos de ajuda financeira a seus vizinhos. Segundo um estudo recente do Centro de Pesquisas Econômicas, uma consultoria financeira de Caracas, os planos do governo venezuelano era gastar somente US$ 6 bilhões no exterior este ano, ante US$ 79 bilhões em 2008. A previsão inclui os gastos de todos os setores - das compras militares à ajuda financeira direta - e indica um grande enfraquecimento da diplomacia do petróleo de Chávez. Caíram, por exemplo, as despesas multibilionárias para a compra de bônus da Argentina, substituídas por empréstimos modestos como os US$ 9 milhões para o cultivo de arroz no Haiti. Agora, os países que eram dependentes de ajuda venezuelana estão recorrendo a outras fontes. A Argentina fechou um acordo de US$ 10 bilhões com a China para financiar importações chinesas, enquanto o Equador, um aliado próximo da Venezuela, está reativando seus laços com o Fundo Monetário Internacional (FMI) - instituição execrada por Chávez. Cuba também está abrindo cautelosamente as portas para melhorar seus laços com Washington, enquanto tenta atrair investimentos do Brasil para reduzir potencialmente sua dependência da Venezuela. "A influência de Chávez está começando a atingir seus limites naturais, depois de ele tentar durante anos promover um processo de integração regional centrado na Venezuela", disse Daniel P. Erikson, analista do Diálogo Interamericano, um grupo de estudos com sede em Washington. "Países de médio porte na América Latina não têm interesse em ser coadjuvantes em um processo dirigido pela Venezuela." Os países maiores, por sua vez, estão promovendo suas próprias agendas, ajudando a redesenhar o mapa de alianças energéticas e de poder na América Latina afastados da Venezuela e da Bolívia - um grande aliado de Chávez que possui grandes reservas de gás natural. Brasil, Argentina e Chile avançaram neste ano em projetos para importar gás natural de fontes alternativas, como Rússia e Trinidad e Tobago. Apesar das mudanças, a Venezuela ainda conserva uma ampla influência na região, principalmente em partes do Caribe e da América Central, para onde ela exporta petróleo com largos prazos de pagamento. A dívida desses países com a Venezuela cresceu mais de 30% em 2008, para US$ 5,5 bilhões. A Venezuela também tem uma grande influência na Alba, um grupo de cooperação que inclui seis das nações mais pobres da região - entre elas Nicarágua e Bolívia. A forte queda na receita venezuelana do petróleo acentuou os problemas na PDVSA. E aumentaram as tensões com sindicatos sobre aumentos salariais que não acompanham a taxa de inflação do país, a mais alta da América Latina (mais informações nesta página). ESTATIZAÇÕES Em meio a tantos problemas, Chávez apossou-se dos ativos de dezenas de prestadoras de serviço do setor petrolífero neste mês em vez de pagar suas dívidas com elas - avaliadas em mais de US$ 10 bilhões. Submetido a essas pressões, o presidente venezuelano teve de mudar de enfoque este ano - abandonando os amplos projetos internacionais para ampliar sua influência na região para empenhar-se no amparo à PDVSA, responsável por mais de 90% das exportações do país. Em abril, a companhia cortou 20% dos salários de seus executivos e congelou os vencimentos de seus 75 mil empregados. Outros projetos, como um plano para explorar reservas submarinas de gás natural embarcando o combustível em superpetroleiros, avançam a passos lentos. "A Venezuela tenta impor sua própria visão de integração energética na região, mas esse modelo está caindo aos pedaços", disse Roger Tissot, especialista em Venezuela da consultoria brasileira Gas Energy. "Os mercados potenciais estão aproveitando os preços baixos da energia para diversificar seus fornecedores."

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