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Piloto morto pelo chavismo se rebelou após testemunhar corrupção policial

Em série de entrevistas feitas com o ‘NYT’ antes de sua morte, Oscar Pérez revela decepção com apatia da população após ataque à Suprema Corte

Atualização:

CARACAS - O jornal americano The New York Times publicou nesta segunda-feira, 22, uma entrevista com o piloto Óscar Pérez, morto na semana passada em uma operação do governo chavista, na qual o ex-policial atribuiu sua decisão de se rebelar contra o presidente Nicolás Maduro depois de testemunhar a conivência do governo com o narcotráfico na Venezuela

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Pérez foi policial por 15 anos. Em 2015, no entanto, participou de um filme local, chamado de “Morte Suspensa”, no qual interpretou um investigador que liberta empresários de sequestradores. Segundo ele, a decisão de entrar no mundo do cinema partiu de uma operação policial da qual ele participou em Caracas, na qual ele presenciou o poder da televisão sobre a população mais pobre.

Em vídeos publicados no Instagram durante o cerco policial, Oscar Pérez aparece com o rosto ensaguentado e acusa as forças de segurança de quererem matá-lo Foto: Social Media Website via Reuters TV

Ainda de acordo com Pérez, o cinema também mostrou como poderia ser a polícia ideal na Venezuela – profissional, honesta e com recursos. “Não há recurso algum. Os técnicos da polícia operam com equipamentos que eles compraram do próprio bolso”, acrescentou. 

O piloto lembra que o motivo que o levou a rebelar-se contra Maduro foi a corrupção na polícia, principalmente depois de grupos chavistas armados, os coletivos, passaram a cooperar com policiais corruptos. Investigações sobre tráfico de drogas passaram a ser bloqueadas, especialmente sobre grandes carregamentos de cocaína, segundo Pérez.

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Entre os oficiais envolvidos com o narcotráfico, sempre de acordo com a narrativa do piloto, está Nestor Reverol, o ministro do Interior que anunciou sua morte na TV estatal. Reverol foi indiciado por narcotráfico nos Estados Unidos. 

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Pérez, que também trabalhou como ator, roubou um helicóptero em junho e organizou um ataque com granadas contra a Suprema Corte e conclamou os venezuelanos a protestarem contra o governo. Desde então, ele passou à clandestinidade até a operação que o matou. 

“Eu luto pela liberdade do país e por um futuro melhor”, disse ele ao Times no começo de janeiro por meio de um aplicativo de mensagens criptografado. “O que eu menos temo é a morte, temo apenas o fracasso.”

A apatia da população após o ataque de Pérez à Suprema Corte, diz ele, o assombrava. “Queríamos encher as ruas com grandes manifestações e que as pessoas percebessem que começamos um movimento, mas isso infelizmente não ocorreu”, afirmou. 

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Mesmo com o cerco se fechando contra ele, Pérez acreditava que conseguiria escapar das autoridades chavistas. “Estamos sempre a um passo à frente deles, graças a ajuda que temos tido e a minhas fontes dentro das instituições”, disse ele. 

Sua última mensagem para o jornal, antes de sua morte, combinava a próxima conversa: “Ótimo, eu aviso vocês”.  No dia seguinte, ele foi fuzilado por tropas de elites chavistas./NYT

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