Piñera diz que quer votos da extrema direita no 2º turno no Chile

Ex-presidente afirma que a situação eleitoral atual é semelhante à dele em 2009, quando obteve 44% e depois venceu a eleição; em entrevista, empresário critica governo de Bachelet, mas não dá detalhes sobre mudanças

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Por Pablo Pereira e SANTIAGO
Atualização:

SANTIAGO - O ex-presidente Sebastián Piñera, o mais votado no primeiro turno da eleição presidencial no Chile, disse ontem, em entrevista a correspondentes estrangeiros em Santiago, que voltará a percorrer todo o país para consolidar a dianteira de cerca de 14 pontos porcentuais sobre o segundo colocado, o senador Alejandro Guillier, da Força da Maioria. 

Piñera celebra resultado das eleições, que o colocaram no segundo turno e lhe garantiram as maiores bancadas no Legislativo Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins

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Piñera afirmou que não se surpreendeu com o resultado e, para o segundo turno, em 17 de dezembro, busca o caminho do “centro”, mas vai também atrás dos votos da extrema direita, do candidato José Antonio Kast, cuja votação ficou em cerca de 8%. “Kast me disse que vai me apoiar, pois acredita no nosso programa Tempos Melhores”, afirmou Piñera. Ele já acertou uma aliança com Kast logo após conhecer os resultados, ainda na noite de domingo. Durante a campanha, porém, Pinera chegou a dizer que Kast representava uma “direita ultrapassada” no Chile. 

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Na ocasião, ele apontava para um eleitor de centro e tentava se manter distante da figura de Kast, que defendia a volta dos tempos do general Augusto Pinochet. Ontem, Piñera insistiu que procura “a moderação e o centro social”, mas defendeu Kast. “Ele defende a família, uma coisa que é cara aos chilenos”, disse. Mas, em seguida, tratou de assegurar que “não haverá esquerdização nem direitização da candidatura”.

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Piñera disse também que usará os aliados eleitos para o Congresso no domingo para reforçar a campanha nos próximos 24 dias. A coligação Chile Vamos elegeu 73 dos 155 deputados, 47% da Câmara, e obteve 12 das 23 cadeiras em disputa para o Senado (52%). 

O candidato acredita que sua coligação sai fortalecida e a nova posição empurrará a candidatura para o Palácio La Moneda. Pelas contas do ex-presidente, a situação eleitoral atual é semelhante à dele em 2009, quando obteve o porcentual de 44%, e depois venceu a eleição.

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“Não fiquei decepcionado com os resultados”, declarou. As pesquisas vinham apontando índices acima dos 44%, o que não se confirmou. O candidato disse que também vai recorrer aos eleitores da Democracia Cristã, cuja candidata, Carolina Goic, conquistou 6% dos votos – resultado considerado um fracasso. Goic já adiantou, na noite de domingo, que deve apoiar o candidato Guillier para “enfrentar Piñera”. Ontem, porém, diante do fraco desempenho eleitoral da Democracia Cristã, Goic renunciou ao cargo de presidente do partido, que agora terá a liberdade de escolher quem apoiará no segundo turno.

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ECONOMIA. Durante a entrevista, no comitê de campanha, Piñera bateu forte no desempenho da economia de Bachelet. Ele defendeu os acordos comerciais “com os países vizinhos”, mas fez questão de dar um recado à China – o principal parceiro comercial do Chile –, ao responder à pergunta de uma jornalista chinesa. “Vamos priorizar nossas relações com a China, em todos os campos”, afirmou.

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Questionado sobre o que mudaria na economia em caso de vitória, o candidato afirmou que tem um plano de recuperação, mas não deu detalhes de quais seriam as mudanças. Ele lembrou que as agências internacionais de classificação de risco rebaixaram a nota do Chile porque o país duplicou a dívida pública. 

Piñera, porém, ressaltou que não pretende mexer na carga tributária, mas disse que é preciso “simplificar” a questão dos impostos para que “possa ser mais bem compreendida” pelos contribuintes. “Vamos fazer uma integração dos impostos que as empresas pagam e o que as pessoas pagam”, resumiu. 

No governo Bachelet, uma reforma tributária aumentou a cobrança de impostos das empresas. “Para crescer, precisamos recuperar a confiança no investimento”, disse. “Para isso, precisamos de unidade de projeto de futuro, de estabilidade. E de uma política macroeconômica responsável. Vamos melhorar a reforma tributária, que tem atrapalhado o crescimento.”

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Piñera também felicitou a candidata Beatriz Sánchez, da Frente Ampla, a grande surpresa da eleição, com 20% da votação. Ela conseguiu uma bancada de 20 deputados e hoje é a terceira força política no Chile. Com uma campanha que criticava o governo Bachelet, ela pode decidir para que lado vai o país a partir de março, que é quando o presidente tomará posse. Integrantes da aliança de Sánchez têm dito que devem fechar com Guillier para impedir a vitória da direita. 

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