PUBLICIDADE

Piñera toma posse no Chile com desafio de reconstruir o país

Após destruição causada por tremor em fevereiro, reconstrução virou prioridade para novo presidente.

Por Marcia Carmo
Atualização:

O presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera, assume o cargo nesta quinta-feira, na cidade de Valparaíso, a 130 quilômetros de Santiago, tendo como principal desafio a reconstrução do país depois do terremoto de 8,8 graus de magnitude que atingiu o território chileno no dia 27 de fevereiro. O recente desastre que arrasou várias localidades passou a ser prioridade na agenda do novo líder, primeiro presidente de centro-direita a chegar ao palácio presidencial La Moneda por meio de voto popular. Nessa etapa inicial, pesará contra Piñera o fato de sua antecessora e agora opositora, a presidente Michelle Bachelet, deixar o posto com uma taxa de aprovação de 84%, segundo pesquisa divulgada nesta semana. Ao mesmo tempo, analistas ouvidos pela BBC Brasil destacaram que Piñera terá agora, nesta fase pós-catástrofe, maior apoio político e social para implantar seu programa de governo do que tinha logo após a eleição em janeiro passado. "Depois da catástrofe, Piñera recebeu apoio da oposição para governar. Todos entendem, agora, que essa é uma situação de emergência e a prioridade deve ser o respaldo às suas medidas", disse o professor de ciências políticas Ricardo Israel, da Universidade Autônoma do Chile. Segundo ele, a etapa de reconstrução vai gerar empregos no país e Piñera poderá cumprir a sua promessa de criar um milhão de postos de trabalho nos quatro anos de mandato. O tremor causou destruição de estradas, pontes, hospitais, escolas, casas, edifícios e monumentos históricos, que terão que ser reerguidos. "Antes, era impossível saber como ele pretendia gerar um milhão de empregos. Agora, depois do terremoto, essa meta é mais fácil de ser concretizada", disse o analista. Especula-se ainda, entre acadêmicos de Santiago, que a reconstrução do país deverá adiar demandas dos trabalhadores, como o pedido de aumento de salários, e que os sindicatos não poderão fazer greves contra possíveis medidas de Piñera. "O próximo presidente do Chile tem uma enorme oportunidade de fazer um bom governo. Tem apoio político e da sociedade para isso", disse o professor de ciências políticas da Universidade do Chile, Guillermo Holzmann. Para Israel, é uma "enorme oportunidade, mas desde que ele saiba aproveitá-la". A dúvida, ressaltou, é saber qual o limite de paciência da sociedade chilena em relação ao processo de reconstrução das áreas destruídas. "As pessoas não vão perdoá-lo se não cumprir rápido a promessa da reconstrução", disse Israel. Desafio social País com 16 milhões de habitantes, o Chile tem uma economia sólida e é o recordista mundial em acordos de livre comercio com outros países. Com isso, a expectativa entre especialistas é de que a nação não tenha dificuldades em conseguir crédito para a reconstrução. Durante os vinte anos de governo da coalizão de centro-esquerda, a Concertación, o Chile reduziu drasticamente os níveis de pobreza. Porém, a desigualdade social, historicamente ampla, aumentou nesse mesmo período. Mesmo assim, os saques ao comércio nas regiões afetadas pelo desastre surpreenderam autoridades, especialistas e populares que moram em Santiago e Valparaíso. "Não parecia meu país", disse o médico Juan José del Pino. "O terremoto mais triste foi o social", disse o professor de sismologia da Universidade do Chile, Mario Pardo. "Foi um terremoto moral", afirmou Israel. Os saques levaram os chilenos, segundo analistas, a apoiar "maior rigor" no combate à delinquência - uma das principais bandeiras da campanha de Piñera. Além disso, muitos dos saqueadores tiveram de entregar os produtos levados de supermercados e de lojas de eletrodomésticos após denúncias anônimas. Essa forma participativa de "combater a delinquência", como o novo líder chileno costuma dizer, poderá ser implementada no seu governo. Mas agora com maior simpatia popular, disse Israel, do que quando Piñera lançou a ideia na campanha eleitoral. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.