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Pinochet: famílias esperaram 27 anos

Por Agencia Estado
Atualização:

Em meio às manifestações de júbilo no Palácio dos Tribunais e, depois, nas ruas do centro, por parte de alguns dos familiares de vítimas da ditadura militar que esperaram 27 anos para ver o ex-ditador Augusto Pinochet ser indiciado e ter sua prisão decretada, outros se contentaram em expressar em palavras o que sentiram após ser divulgada a decisão do juiz Juan Guzmán, encarregado do processo do general. "Embora tenha-se passado muitíssimos anos, sentimos que hoje se começa a fazer justiça... o que é o mais importante para nós", disse Viviana Díaz, presidente do Grupo de Familiares de Detidos Desaparecidos. O pai de Díaz, o dirigente comunista Víctor Díaz, desapareceu em 1976 após ser preso pela polícia repressiva de Pinochet; ele foi lançado ao mar por seus captores, segundo um informe entregue pelas Forças Armadas ao presidente Ricardo Lagos no início deste mês. O juiz Guzmán indiciou hoje Pinochet por 57 execuções e 18 seqüestros perpetrados pela "Caravana da Morte", um grupo de militares por ele enviado para percorrer o país a fim de acelerar os processos abertos contra os dissidentes após o golpe militar de 1973. A secretária-geral do Partido Comunista, Gladys Marín, disse que "o que parecia impossível, frutificou". Marín, cujo marido está na lista dos mais de mil desaparecidos chilenos, apresentou há três anos a primeira queixa-crime contra Pinochet. Seu exemplo foi rapidamente seguido, e hoje se acumulam 214 queixas-crime contra o general. Carmen Hertz, advogada de acusação e viúva de outro desaparecido, disse que "com isto se abre... (em) nossa sociedade o caminho da verdade e da justiça". Seu marido, o jornalista Carlos Berger, foi condenado a 60 dias de prisão em um conselho de guerra por continuar transmitindo notícias no dia do golpe. Mas foi seqüestrado pela "Caravana da Morte" e executado nos arredores de Calama, a 1.560 km ao norte de Santiago. Hertz disse que, segundo as investigações judiciais, Berger e outras dezenas de opositores foram primeiro esfaqueados e depois mortos a tiros. Seus restos continuam desaparecidos. Os defensores de Pinochet foram igualmente enfáticos em sua declarações. Lucía Pinochet, filha do ex-ditador chileno, disse hoje que o juiz Juan Guzmán se tornou responsável pela vida de seu pai ao indiciá-lo e decretar sua prisão domiciliar. "Daqui em diante, aponto o juiz Guzmán como responsável pela vida de meu pai", declarou. "Vejo que os exames médicos não foram considerados em absoluto, o que confirma minha suspeita de que estamos diante de um julgamento político, que só levará em conta os exames quando as condições de saúde de meu pai forem extremas", afirmou Lucía Pinochet. O juiz Guzmán, por sua vez, negou-se a dar entrevistas e anunciou que manterá silêncio até terminar a "caça" de que tem sido alvo nos últimos dias. Ao mesmo tempo, os líderes da Fundação Augusto Pinochet anunciaram a formação de uma caravana que amanhã irá até a casa do ex-governante em Bucalemu, a 60 km de Santiago, para expressar-lhe seu carinho.

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