Plano de Biden contra a Ômicron deve incluir auxílio de militares e 500 milhões de testes

Presidente americano vai revelar novas medidas nesta terça-feira, que também incluem a criação de novos locais de testagem e centros de vacinação federais

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Por Sheryl Gay Stolberg
Atualização:

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden vai anunciar novas medidaspara combater o rápido aumento de casos de coronavírus no país nesta terça-feira, 21, incluindo a preparação de 1.000 profissionais médicos militares para ajudar em hospitais sobrecarregados, criação de novos locais de testagem e centenas de centros de vacinação federais e compra de 500 milhões de testes rápidos para distribuir gratuitamente ao público.

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As medidas, delineadas a repórteres na noite de segunda-feira por dois altos funcionários do governo que falaram sob condição de anonimato, surgem em um momento em que o número de casos de coronavírus está aumentando rapidamente em todo o país, especialmente no Nordeste, alimentado pela variante Ômicron - exatamente quando os americanos se preparam para as reuniões de Natal.

Os 500 milhões de testes que o governo pretende adquirir só estarão disponíveis em janeiro, afirmaram as autoridades, acrescentando que o governo pretende criar um site onde as pessoas possam solicitar o envio gratuito para suas casas.

Moradores da Philadelphia esperam em fila para retirar kits comtestes de covid-19. Foto: AP Photo/Matt Rourke

O plano para novos centros de testagem federais será lançado na cidade de Nova York, onde várias unidades estarão funcionando antes do Natal. E Biden pretende invocar a Lei de Produção de Defesa, disseram as autoridades, para acelerar a produção de testes.

O plano tem um tom mais urgente do que a estratégia para a pandemia no inverno, que Biden anunciou há três semanas no National Institutes of Health, poucos dias depois da nova variante ser descoberta na África do Sul. Na época, ele prometeu que 150 milhões de americanos com seguro saúde privado seriam reembolsados por testes de covid-19 residenciais a partir de meados de janeiro, disse que seu governo melhoraria o acesso às doses de reforço e impôs novos requisitos de testagem para viajantes internacionais.

Mas esse plano - e a resposta mais ampla de Biden à variante Ômicron - atraiu críticas de especialistas em saúde pública, que dizem que o presidente se concentrou demais na vacinação como sua estratégia central. Muitos o pediram para ser mais agressivo sobre os testes como meio de desacelerar a propagação da variante - incluindo a possibilidade de enviar testes rápidos para as casas de todos os americanos, gratuitamente.

Desde que Biden anunciou sua estratégia de inverno, porém, a variante Ômicron explodiu; os Centros para Controle e Prevenção de Doenças relataram na segunda-feira que a nova cepa ultrapassou as demais e agora é a versão dominante do coronavírus nos Estados Unidos, respondendo por 73% das novas infecções na semana passada.

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Especialistas apontam que os EUA têm adotado uma política falha de testagem desde o início da pandemia, com o equilíbrio entre oferta e demanda sendo um desafio persistente para os governos Trump e Biden. Ao contrário de alguns países europeus, os EUA não subsidiam testes domiciliares em grande escala da mesma forma que fazem com as vacinas. Com a chegada da Ômicron, a demanda está começando a superar a oferta.

"Temos que reconhecer a realidade de que, infelizmente, com o coração pesado, o vírus está no comando e precisamos retomar o controle, e a única maneira de fazer isso como uma sociedade é testar e isolar, testar e isolar, e repetir, repetit, repetir", disse Mara Aspinall, especialista em diagnósticos médicos da Arizona State University.

O próprio Biden foi exposto ao coronavírus no final da semana passada, mas seu teste deu negativo, disseram autoridades da Casa Branca na segunda-feira. Com os americanos já nervosos com seus planos de férias, ele tentará tranquilizar a nação enquanto lembra às pessoas, mais uma vez, que sua melhor defesa contra a covid-19 é se vacinar e, para aqueles elegíveis, tomar a dose de reforço.

A Casa Branca está tentando evitar falar em um novo lockdown a todo custo e, para consternação de alguns, quase não pediu às pessoas que cancelem seus planos de viagem, evitem usar o transporte público e assim por diante.

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"Este não é um discurso sobre trancafiar o país", disse Jen Psaki, a secretária de imprensa da Casa Branca, a repórteres na segunda-feira. "Este é um discurso destacando e sendo diretamente claro para o povo americano sobre os benefícios de ser vacinado, e as medidas que vamos tomar para aumentar o acesso, aumentar a testagem e os riscos para indivíduos não vacinados."

Mas Biden também vai reconhecer que a forma da pandemia está mudando, disseram as autoridades. As infecções impulsionadas pela Ômicron são comuns, embora os cientistas acreditem que as vacinas ainda fornecerão proteção contra casos graves. Muitas pessoas totalmente vacinadas e recebendo doses de reforço estão sendo infectadas e apresentam sintomas leves ou mesmo nenhum sintoma.

Biden retorna à Casa Branca após fim de semana em Delaware; alguns especialistas criticam a falta de presença mais forte do presidente. Foto: Stefani Reynolds/The New York Times

Biden vai dizer que se as pessoas forem vacinadas e seguirem outras diretrizes de saúde pública, incluindo o uso de máscaras em locais públicos, "elas devem se sentir confortáveis para comemorar o Natal e as festas de fim de ano" com suas famílias, disse uma das autoridades.

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Mas por trás dessas notas de garantia do presidente, há uma profunda preocupação entre seus conselheiros e especialistas em saúde pública sobre a capacidade dos hospitais do país, que já estão sob grande pressão, de resistir a um surto de Ômicron. Mesmo que a variante acabe causando casos menos graves de covid-19 e uma porcentagem relativamente baixa de infectados precise ser hospitalizada, a explosão de casos significa que ainda é possível que os hospitais fiquem lotados, dizem os especialistas.

"Essa é a grande preocupação", disse Marcus Plescia, médico-chefe da Associação de Autoridades de Saúde Territoriais e Estaduais. "Se muitas pessoas adoecem, mesmo que apenas uma pequena parte delas esteja gravemente doente, ainda pode ser um grande número de pessoas."

Biden pretende instruir seu secretário de defesa, Lloyd J. Austin, a "preparar mais 1.000 militares - entre médicos, enfermeiras, paramédicos e outros profissionais da saúde - para serem enviados a hospitais em janeiro e fevereiro, conforme necessário", de acordo com a uma planilha preparada pela Casa Branca.

Ao mesmo tempo, Biden vai anunciar que seis equipes federais de resposta a emergências, com mais de 100 profissionais de saúde e paramédicos, serão enviadas imediatamente a seis estados: Michigan, Indiana, Wisconsin, Arizona, New Hampshire e Vermont. Anteriormente, 300 funcionários federais da saúde já haviam sido destacados desde que a Ômicron foi descoberta no final de novembro.

Biden também vai direcionar a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema, na sigla em inglês) para trabalhar com hospitais em todo o país a fim de fazer planos para expandir a capacidade. A Fema também criará novas clínicas de vacinação, disseram as autoridades, para viabilizar centenas de vacinações adicionais por semana.

O governo também está enviando ventiladores pulmonares para os Estados - na semana passada, disseram autoridades, enviou 330 - e terá centenas de ambulâncias e equipes médicas de emergência, supervisionadas pela Fema, a postos "para que, se um hospital ficar lotado, eles possam transportar pacientes a abrir leitos em outras instituições", de acordo com a ficha técnica produzida pelas autoridades. Ainda não está claro de onde seria deslocado o pessoal dessas equipes, mas a ficha informativa dizia que, mesmo agora, "30 paramédicos estão indo para New Hampshire, 30 para Vermont e 20 para o Arizona", enquanto "30 ambulâncias estão indo para Nova York e oito para Maine".

Técnica contratada pela Fema aplica dose de reforço em paciente no centro de vacinação em Washington. Foto: AP Photo/Ted S. Warren

A Casa Branca sabe que as próximas semanas - definida pelo especialista em doenças infecciosas Michael Osterholm como uma "tempestade de vírus", em uma previsão - serão um teste para a presidência de Biden. Ao anunciar sua estratégia de pandemia de inverno no início deste mês, o presidente disse que "não estava medindo esforços, removendo todos os obstáculos para manter o povo americano seguro".

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“Vamos lutar contra essa variante com ciência e velocidade, não com caos e confusão”, disse o presidente então.

Mas, à medida que a Ômicron se consolidou com a velocidade da luz nas últimas semanas, a abordagem do governo beirou a discrição, com o presidente deixando a maior parte das mensagens sobre o tema para sua equipe de resposta da covid-19 e seus briefings com foco em dados.

Plescia, da associação estadual de autoridades de saúde, disse que gostaria especialmente de ver Biden usar sua plataforma para exortar governadores e prefeitos a reimpor os mandatos de máscara que muitos abandonaram.

"Acho que ele precisa preparar o público para o fato de que talvez tenhamos que ser mais agressivos", disse o médico. "Até agora, a mensagem é que não estamos cumprindo ordens para ficar em casa, mas acho que a próxima coisa a fazer seria ser muito mais agressivo com ordens sobre o uso de máscara. O presidente tem muita influência, e talvez seja bom ouvir um pouco mais disso".