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Plano de Obama coloca Chicago no centro do debate sobre armas

Críticos dizem que cidade têm leis rígidas, mas registra uma das mais elevadas taxas de homicídio dos EUA.

Por Mark Mardell
Atualização:

O superintendente da polícia de Chicago mostra uma sacola marrom. Dentro está o que ele vê como parte do problema da cidade. Parte do motivo, acredita ele, pelo qual 506 pessoas foram mortas a tiros no ano passado, parte do motivo pelo qual a polícia apreendeu 7,4 mil armas ilegais em 2012, parte do motivo pelo qual mais de 20 pessoas foram mortam mortas a tiros em Chicago desde o massacre de crianças na escola em Newtown. O número de mortos parece vago porque ele muda a toda hora. Eram 24 na última quinta-feira e pelo menos três pessoas morreram desde então. O superintendente Gary McCarthy mostra uma arma. "Alguns de nossos policiais testemunharam um atropelamento com fuga, e quando pararam o veículo, um homem apareceu na janela e disparou uma arma do tipo Uzi contra os policiais", afirma. "É disso que estamos falando: a arma é uma 9mm, com um carregador de capacidade aumentada para pelo menos 30 balas", acrescenta. "Uma arma do tipo militar nas ruas de Chicago." Ele está rodeado por quatro colegas em uniformes de cores escuras, cobertos de distintivos. Todos foram convidados pelo senador democrata Dick Durbin, de Illinois, para uma reunião sobre controle de armas. Eles afirmam esperar que o choque com o terrível massacre de Newtown leve o país a tornar mais rígidas suas leis sobre armas. Debate Chicago está no centro do debate. Enquanto os nomes de Newtown, Aurora e Columbine estão gravados na memória do mundo inteiro, o lento e constante som de mortes na cidade equivale a um massacre de Newtown a cada três semanas. Foi esta cidade que tentou impor uma proibição de armas, derrubada pela Suprema Corte há dois anos. Isso teve enormes consequências. Costumava ser possível argumentar que a segunda emenda da Constituição americana significava exatamente o que dizia: que os americanos tinham o direito de portar armas porque "uma milícia bem regulada é necessária para a segurança de um Estado livre". Alguns costumavam argumentar que agora que os Estados Unidos têm o maior Exército que o mundo já viu, isso soava um pouco redundante. Mas isso já não é possível. A Suprema Corte decidiu que a segunda emenda realmente significava que os americanos têm o direito de ter armas para sua própria proteção. Chicago está no centro do debate também por outro motivo. Aqueles contrários ao controle de armas afirmam que a cidade tem as leis mais rígidas do país, o que provaria que esse tipo de restrição não reduz a taxa de criminalidade. Os homens da lei em volta da mesa rejeitam o argumento. Eles dizem que são necessárias novas leis, que são pouco mais do que senso comum. Deveria ser uma obrigatoriedade legal relatar o furto ou perda de uma arma. Deveria ser obrigatória a verificação de antecedentes para todos os que compram armas - sem exceções. Deveria haver penas mínimas obrigatórias para o porte ilegal de armas. Eles consideram ridículo que uma identidade estadual, necessária para comprar uma arma, possa ser revogada para pessoas com problemas mentais ou criminosos, mas que não seja possível apreender suas armas. Armas automáticas Mas, acima de tudo, o superintendente McCarthy diz que armas automáticas deveriam ser proibidas. "A segunda emenda nos dá o direito de portar armas. Mas em uma sociedade civilizada, todos nós compreendemos que não deveríamos ter granadas, lançadores de foguetes, morteiros e canhões, não é?" McCarthy chama a atenção para a arma sobre a mesa. "Não é razoável que uma arma como esta esteja nas ruas de nosso país", afirma. "As AK-47 são armas do tipo militar, não fazem sentido em uma sociedade civilizada." Richard Pearson, da Associação Estadual de Rifles de Illinois, diz que isso não está certo, e que da última vez em que houve uma proibição de armas de combate, não funcionou. "(A proibição) mostrou que em alguns locais, os crimes aumentaram", diz. "Quando você tira as armas das mãos de cidadãos honestos, somente os criminosos têm acesso a elas", acrescenta. "Não é algo sobre o que as pessoas queiram pensar, não deveria ser desta maneira." "O que precisa acontecer em Chicago é que a propriedade privada de armas deve aumentar", afirma Pearson. "Isso impediria muitas das invasões a residências. O modo como você controla essas coisas nos estágios iniciais é deixando que as pessoas se armem." Frustração O xerife Thomas Dart, do condado de Cook, um político democrata em ascensão, parece frustrado e cansado desse tipo de argumento. Ele cuida da segurança no segundo maior condado dos Estados Unidos, que cobre a maior parte de Chicago e algumas áreas ao redor. Ele diz que se sente como em uma máquina do tempo, voltando atrás para repetir os mesmos velhos argumentos. "Converso com a Associação Nacional de Rifles há anos, e acho que é um desses monumentais desperdícios de saliva", diz. "Por quê? Você pode me dar um motivo pelo qual essa arma deve ser liberada?" A frustração, a falta de entendimento e a raiva por parte de ambos os lados se aprofunda cada vez mais. Mas os oficiais da polícia de Chicago esperam que as propostas do presidente Barack Obama possam vir a fazer diferença nas ruas da cidade. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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