''Poder inteligente'' prevê abordagem multilateral

Acadêmico de Harvard que cunhou termo diz que EUA não estão sós no mundo, mas devem assumir o centro dele

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Por Washington
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Elaborado pelo cientista político Joseph Nye, da Universidade Harvard, o conceito de "poder inteligente" (ou "smart power", em inglês) - citado pela futura secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton - designa a capacidade de se atingir objetivos na arena internacional, combinando simultaneamente o "hard power" (poder duro), formado pela força militar e ação econômica direta, e o "soft power" (poder brando), composto pela influência ideológica e cultural. Nye, de 71 anos, foi vice-subsecretário de Estado de 1977 a 1979, durante a administração de Jimmy Carter. Depois disso, atuou como líder do grupo de trabalho sobre não-proliferação nuclear do Conselho de Segurança Nacional. Ele vincula o princípio do "poder inteligente" à doutrina descrita nos anos 40 como a "do porrete e da cenoura" - a teoria de relações internacionais que prevê castigo ou recompensa da potência maior para a menor, de acordo com as ações da segunda. O "poder inteligente" consagra o multilateralismo. "Os EUA devem conscientizar-se que não estão sós no mundo, mas precisam assumir a responsabilidade de estar no centro dele", declarou Nye em declarações no ano passado. "Liderança e poder estão intimamente relacionados e existe mais de uma forma de exercê-los." O Irã pode ser o primeiro grande teste para a doutrina do "poder inteligente" de Hillary. Na audiência no Senado, ela afirmou que o presidente Barack Obama vai buscar uma nova estratégia que incluirá o "engajamento" com o Irã, para tentar mudar o comportamento do país. Hillary, porém, deixou claro que o governo Obama continuará a tratar com toda a dureza o que é percebido como "promoção do terrorismo", "interferência contínua no funcionamento dos outros governos" e a "busca de armas nucleares" por parte do Irã. Hillary especificou que o futuro governo americano considera "inaceitável" que o Irã obtenha armas nucleares. "Nós vamos liderar com a diplomacia porque é a abordagem inteligente. Mas sabemos que a força militar algumas vezes será necessária, e contaremos com ela para proteger nosso povo e nossos interesses quando e onde necessário, como um último recurso", esclareceu. REUTERS E AP, COM FERNANDO DANTAS AS TESES DE NYE Poder brando (soft power) - É o exercício de influenciar corpos políticos por meio de métodos diplomáticos não diretamente coercitivos, como a predominância cultural e ideológica Poder duro (hard power) - É o termo que descreve a utilização de coerção militar ou econômica para influenciar a relação com ou os interesses de corpos políticos externos. O princípio favorece o unilateralismo da potência hegemônica, é altamente agressivo e mais efetivo quando imposto a corpos políticos de menor poder Poder inteligente - É a evolução e a junção de oportunidade dos dois princípios anteriores

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