Poderio americano é o precursor de sua influência global

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Análise: Alexander BenardPressionado internamente, com a oposição iraquiana à presença militar americana e o fracasso das negociações entre os governos dos EUA e do Iraque, o governo de Barack Obama retirou as forças do Iraque e, em breve, terá de encarar uma decisão semelhante no Afeganistão. A Ásia Central é uma região de enorme importância para os EUA. Ela representa o ponto nevrálgico onde se entrecruzam relevantes poderes rivais emergentes, como China, Rússia e Índia - e está próxima de ameaças como Paquistão e Irã. A região tem também significativas reservas de petróleo e gás, além de grandes quantidades de lítio, cobre, terras-raras, ouro e muitos outros recursos naturais cruciais para o comércio global. Entretanto, na maior parte da Ásia Central a presença americana é muito reduzida. São poucas as companhias que ali operam, em geral porque os governos russo e chinês usaram com sucesso ameaças - explícitas e implícitas - a fim de impedir que estas repúblicas abram as portas às empresas ocidentais.No Oriente Médio, os EUA mantêm tropas e relações de segurança com vários países (Catar, Bahrein, Jordânia e Emirados Árabes, entre outros) e portanto podem absorver a saída do Iraque sem sofrer um golpe estratégico para seus interesses regionais. Na Ásia Central, a influência americana é muito pequena. Os EUA não têm mais a base aérea no Usbequistão e mantêm apenas algumas centenas de soldados numa base aérea no Quirguistão. Desse modo, sua única base é o Afeganistão - um participante cheio de boa vontade - que altera a dinâmica do poder na região. Os EUA certamente conseguem informações valiosas e benefícios no combate ao terrorismo pelo fato de terem tropas estacionadas em um país que faz fronteira com o Irã, o Paquistão e a China. Entretanto, o mais importante é que a presença americana no Afeganistão indica que os EUA têm intenções sérias a respeito da Ásia Central e querem atuar nesta parte do mundo no futuro previsível. A presença americana no Afeganistão quebra o duopólio China-Rússia porque representa um poder alternativo capaz de exercer forte influência na região. Isso encoraja países vizinhos, dando-lhes a confiança de que necessitam para fazer frente às ameaças externas. Uma presença de aproximadamente 20 mil a 30 mil soldados americanos - número semelhante ao dos soldados que estão na Coreia do Sul ou no Japão - seria suficiente para atingir esses objetivos. Um fato ilustra o peso da presença dos soldados americanos no Afeganistão: durante toda a década de 90, a Rússia insistiu em manter suas tropas guardando a fronteira do Tajiquistão com o Afeganistão, dizendo aos tajiques categoricamente que não confiava neles para guardar esta fronteira instável.O Tajiquistão não teve outra escolha senão aceitar. Mas depois da invasão americana no Afeganistão, em 2001, os tajiques avisaram os russos de que a festa tinha acabado. Os guardas de fronteira tinham de ir embora. Com os EUA do seu lado, os tajiques sentiram-se fortalecidos. E os russos foram obrigados a retirar as suas tropas. Parecia o amanhecer de uma nova era. Alguns meses atrás, a Rússia informou o Tajiquistão de que os guardas de fronteira voltariam, e até o momento os tajiques não deram nenhuma indicação de que pretendem iniciar um conflito. Seu poder desapareceu porque agora, em toda a Ásia Central, há uma crescente sensação de que os EUA se preparam para ir embora. Realinhamentos deste tipo estão ocorrendo em outros países da região. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Rodham Clinton, sabe que há muita coisa em jogo para os americanos. No mês passado, ela visitou várias repúblicas da Ásia Central para discutir a questão do compromisso americano na região.Sua visita deu-se ao mesmo tempo em que pronunciava seu importante discurso sobre a política econômica, no qual anunciava que os EUA se tornarão mais agressivos na defesa dos seus interesses econômicos e se esforçarão para enfrentar as estatais chinesas, que estão conseguindo criar pontos de estrangulamento no comércio de recursos naturais estrategicamente vitais, em todo o mundo. O que Hillary não falou em seu discurso, e não mencionou em sua visita à Ásia Central, foi que, em algumas regiões, a projeção do poderio militar americano é um precursor necessário da aplicação da política econômica e da influência política em geral. Em nenhum outro lugar isso é mais válido do que na Ásia Central. Sem a presença americana, a região, com sua privilegiada localização estratégica e seus importantes recursos naturais, estará praticamente fechada aos Estados Unidos. A Ásia Central não quer isto, e tampouco os Estados Unidos. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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