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Polêmica das bases volta a isolar EUA

Irritação de países expõe falhas da política de Obama para região

Por Ruth Costas e WASHINGTON
Atualização:

A polêmica em torno do acordo militar entre os Estados Unidos e a Colômbia acabou com a lua de mel da nova administração americana com os líderes da América Latina. Em Washington, na semana passada, algumas autoridades estavam surpresas com a reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se somou à campanha do presidente venezuelano Hugo Chávez contra o acordo e propôs levá-lo à reunião do Conselho de Defesa da União Sul-americana (Unasul). "Às vezes nos parece que o Brasil vê o mundo apenas como um mercado", disse uma fonte ligada ao governo de Barack Obama, sob condição de anonimato, lembrando também as declarações feitas por Lula em apoio ao presidente Mahmoud Ahmadinejad após as eleições iranianas. "O Brasil está se consolidando como uma potência de importância regional e global, mas um grande poder implica numa grande responsabilidade", acrescentou a fonte. Segundo alguns analistas, porém, a reação enérgica de líderes da região era previsível . "Ouve um erro de cálculo. As autoridades americanas subestimaram as preocupações da região - o que inclui os países moderados como o Brasil - com o aumento da presença militar dos EUA em seu território e pensaram apenas em seu objetivo imediato: encontrar um país que pudesse abrigar as operações da base de Manta, no Equador", diz Peter Hakim, do instituto de pesquisas Diálogo Interamericano, de Washington. A Casa Branca também recebeu pedidos de explicação de alguns parlamentares preocupados com pelo menos dois pontos das negociações. Primeiro, por que não houve um esforço diplomático para informar os presidentes da região sobre os termos do acordo antes que as negociações viessem a público? PRECIPITAÇÃO O segundo questionamento é por que os EUA querem ampliar ainda mais as relações com a Colômbia, país com o qual já têm uma ampla cooperação na área militar e contra o qual parte da bancada democrata tem uma série de ressalvas por causa das denúncias de abusos de policiais e paramilitares? Até o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, general Jim Jones, admitiu que os EUA se precipitaram. "Poderíamos ter feito um trabalho melhor", disse. Uma das hipóteses para essa precipitação diz respeito à inexperiência em política externa da nova administração americana. "Obama não sabe lidar com a diversidade da fauna e da flora latino-americana", diz o historiador Eusebio Mujal Leon, da Universidade de Georgetown. Outra hipótese aponta para a demora do Congresso americano em confirmar o nome do novo subsecretário dos EUA para a região, Arturo Valenzuela. Um senador republicano da Carolina do Sul bloqueou sua nomeação em retaliação ao fato de Obama ter apoiado o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya. A impressão é que a política americana para a região ainda está à deriva. "O problema poderia ter sido evitado se Valenzuela já estivesse exercendo seu cargo", diz Michael Shifter, especialista em América Latina. "Um caso sensível como esse deveria ter sido levado para os altos níveis da administração americana." *Repórter viaja a convite do governo dos EUA

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