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Polícia argentina apura sumiço de testemunha anti-ditadura

O pedreiro Luis Gerez, militante peronista e defensor dos direitos humanos, desapareceu quarta-feira última na localidade de Escobar, a 40 km da capital

Por Agencia Estado
Atualização:

As autoridades argentinas investigam se ex-repressores da ditadura (1976-83) estão envolvidos no desaparecimento de um pedreiro cujo testemunho impediu que um ex-policial acusado de torturas assumisse uma cadeira na Câmara de Deputados, disse o ministro de Segurança da Província de Buenos Aires, León Arslanian. O pedreiro Luis Gerez, de 51 anos, militante peronista e defensor dos direitos humanos, desapareceu quarta-feira última na localidade de Escobar, 40 quilômetros ao norte da capital, denunciaram amigos e familiares. Segundo eles, Gerez estava reunido com amigos e saiu para comprar carne em um açougue próximo, mas não voltou para a casa de um companheiro de militância onde preparariam um churrasco. O desaparecimento de Gerez soma-se ao de Julio López, um pedreiro de 77 anos, que foi visto pela última vez em 18 de setembro, dias após prestar um testemunho-chave contra o ex-policial Miguel Etchecolatz, que foi condenado à prisão perpétua por crimes e torturas durante a ditadura. A suspeita de que possa existir uma campanha para amedrontar as testemunhas de julgamentos contra violadores dos direitos humanos está preocupando o governo federal e as autoridades da Província de Buenos Aires, onde ocorreram os desaparecimentos. O presidente Néstor Kirchner decidiu suspender uma viagem ao sul do país, onde passaria o ano-novo com parentes, para coordenar pessoalmente os trabalhos de buscas. Os processos judiciais por crimes contra a humanidade, incentivados pelo governo, foram retomados desde a anulação, em 2005, das leis que anistiavam os violadores. A família de Gerez - militante da esquerda peronista, à qual também pertence Kirchner - informou que ele recebeu várias ameaças após prestar declarações no Congresso em maio contra o ex-policial Luis Patti, de 53 anos, que tinha sido eleito em 2005 pelo direitista Partido Unidade Federalista. Durante a audiência, Gerez disse que quando tinha apenas 17 anos em 1972 e era membro da Juventude Peronista, foi torturado na delegacia do município de Escobar - cerca de 45 quilômetros a noroeste da capital - por policiais e, apesar de estar encapuzado, reconheceu a voz de Patti. Patti, que foi prefeito de Escobar, enfrenta um processo por violação dos direitos humanos, no qual certamente Gerez seria novamente chamado a prestar declarações. Patti se apressou em condenar o desaparecimento e disse que não guarda rancor do pedreiro. O governo provincial de Buenos Aires ofereceu recompensa de US$ 130 mil a quem der informações sobre o paradeiro de Gerez. Uma soma similar foi oferecida no caso de López, sem que tenha surtido resultados. A família de Gerez fez um desesperado apelo para que a população divulgue informações sobre ele.

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