
08 de março de 2018 | 11h14
LONDRES - A polícia britânica dá continuidade nesta quinta-feira, 8, à investigação sobre como chegou ao país o agente químico que deixou o ex-agente secreto russo Serguei Skripal e sua filha Yulia internados em estado grave. O primeiro policial que atendeu os dois quando já estavam inconscientes, no domingo, em um banco na cidade de Salisbury, no sudoeste do país, se encontra em estado grave.
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Todas as atenções se dirigiram para a Rússia depois de um episódio semelhante com Alexander Litvinenko, um ex-agente russo assassinado em Londres em 2006 com uma substância radioativa. Mas Moscou negou estar envolvido no ataque e denunciou ser vítima de uma campanha de desprestígio.
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"Quando tivermos todas as provas do que aconteceu, vamos responsabilizar alguém, se for apropriado", disse a ministra do Interior, Amber Rudd, à emissora BBC. "Temos de ser metódicos, manter a cabeça fria e nos basearmos em fatos, não em rumores.”
Sobre o estado dos feridos, ela disse que "os dois alvos continuam em estado muito grave. O policial interage. Estou mais otimista quanto a ele, mas ainda é cedo". “Nos comprometemos a fazer tudo o que pudermos para levar o autor à Justiça, seja quem for e esteja onde estiver.”
Skripal, um ex-coronel que chegou ao Reino Unido em 2010 em uma troca de espiões após ser condenado por traição por passar informação a Londres, pode ter recebido a substância em um pacote que Yulia trouxe da Rússia quando o visitava, disse o jornal The Times, citando uma fonte anônima. A embalagem seria "presente de uns amigos".
Outras hipóteses são que o veneno foi aplicado com um spray, ou misturado na comida, ou na bebida. Antes de serem encontrados, Skripal e sua filha haviam passado por um bar e um restaurante italiano próximos, ambos isolados pela polícia no domingo.
Uma testemunha, que viu os dois no restaurante, disse à BBC que Skripal estava "muito agitado" e "parecia perder a paciência". "Começou a falar aos gritos, queria a conta e ir embora", explicou.
Os apelos do governo feitos à população para que mantenha a calma não frearam os pedidos de rompimento das relações com a Rússia. "Não vejo como podemos manter relações diplomáticas com um país que tenta assassinar pessoas em solo britânico e põe em perigo as vidas de cidadãos britânicos", disse o deputado conservador Nick Boles em sua conta no Twitter.
Em entrevista à emissora ITV, o ministro da Defesa, Gavin Williamson, qualificou o episódio de "repugnante", mas pediu "margem para que a polícia investigue de maneira adequada e profunda".
O comandante da polícia antiterrorista britânica, Mark Rowley, se negou a identificar o tipo de gás usado na ação. O gás sarin é o mais conhecido dos agentes químicos. Trata-se de uma potente substância neurotóxica, inodora e invisível, que, embora não seja inalada, seu simples contato com a pele bloqueia a transmissão do influxo nervoso e conduz à morte por parada cardiorrespiratória.
As vítimas se queixam, primeiramente, de fortes dores de cabeça e apresentam pupilas dilatadas. Depois, sofrem convulsões, paradas respiratórias e entram em coma.
Segundo fontes dos serviços de segurança citadas pelo jornal The Sun, apenas alguns laboratórios no mundo são capazes de produzir essas substâncias. Entre elas está o Yasenovo, perto de Moscou, que pertence aos serviços secretos.
Citando um alto funcionário do governo britânico que não foi identificado, o Times disse que a condição de Skripal é especialmente grave. "Existe a impressão de que não vai sair dessa", disse a fonte para o jornal. "Acho que pode ser mais positivo (para Yulia)."
Ela é o único membro familiar que resta ao espião, cuja mulher morreu de câncer em 2012, e o filho Alexander, de insuficiência hepática, em 2017, em São Petersburgo. / AFP
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