Polícia de Londres pede para limitar menção a festas ilegais em relatório do governo britânico

Líderes da oposição atacaram a perspectiva de um atraso na divulgação do relatório ou sua alteração, argumentando que isso equivaleria a um acobertamento

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Por Redação
Atualização:

LONDRES - A Polícia Metropolitana de Londres admitiu nesta sexta-feira, 28, ter solicitado que o aguardado relatório interno - potencialmente explosivo para o primeiro-ministro Boris Johnson - sobre as festas em Downing Street durante os confinamentos no período da pandemia mencione de forma "mínima" os eventos que são alvo da investigação policial. Isso pode dar um respiro ao premiê, que enfrenta a ameaça de uma eventual moção de censura dentro do próprio Partido Conservador por causa do escândalo.

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A Scotland Yard disse que não pediu o adiamento da publicação do relatório da funcionária pública Sue Gray ou a eliminação de detalhes que não estavam sob investigação policial. Mas, na prática, o pedido significa que o relatório quase certamente não conterá informações sobre as acusações mais sérias sobre as festas. A equipe de Gray estava estudando se enviava uma versão editada do relatório ao governo ou esperava que a polícia concluísse sua investigação para, em seguida, enviar o documento completo. Mas, na noite desta sexta-feira, decidiram enviar apenas a versão editada, disseram fontes do governo ao jornal britânico The Guardian, acrescentando que ele deve ser publicado em breve.

Muitos deputados do governista Partido Conservador aguardavam ansiosos a divulgação do relatório sobre as festas na sede do governo e residência oficial do premiê entre 2020 e 2021, para decidir se tentariam ou não afastar Johnson do poder. Mas se os detalhes mais incriminadores forem omitidos, isso pode reduzir a atual campanha contra o premiê. Johnson tinha prometido divulgar o texto sem qualquer tipo de edição assim que recebesse o documento, além de comparecer ao Parlamento para responder a perguntas sobre a investigação.

Outdoor eletrônico exibe uma previsão para a saída do premiê britânico, Boris Johnson, em Londres, em 28 de janeiro de 2022 Foto: Toby Melville/Reuters

Os líderes da oposição atacaram a perspectiva de um atraso na divulgação do relatório ou sua alteração, argumentando que isso equivaleria a um acobertamento. “O relatório de Sue Gray deve ser publicado na íntegra, incluindo todas as fotos, mensagens de texto e outras evidências”, disse em um comunicado Alistair Carmichael, em nome dos liberal-democratas. “Qualquer indício de manipulação acertada entre a comissária da polícia e o governo é profundamente prejudicial.”

O líder do principal partido de oposição, o Trabalhista, Keir Starmer, disse em um comunicado: “O governo está paralisado por causa do comportamento do primeiro-ministro em Downing Street e das tentativas de seu gabinete para salvar sua pele”. “O relatório de Gray deve ser publicado na íntegra o mais rápido possível e a polícia deve prosseguir com sua investigação”, acrescentou. “Mas o Reino Unido enfrenta enormes desafios à medida que emergimos da pandemia e é ofensivo que o único foco do governo seja limpar a sujeira dele mesmo.”

O anúncio colocou o papel da polícia em questão. Depois de rejeitar por semanas a investigar as infromações sobre as festas, a comissária da Polícia Metropolitana, Cressida Dick, anunciou inesperadamente na terça-feira que a força havia decidido abrir uma investigação, no momento em que o relatório de Gray estava quase concluído. Isso desencadeou confusão sobre o momento e o conteúdo do relatório, que Johnson havia prometido publicar na íntegra logo após sua apresentação.

Na terça-feira, Downing Street afirmou que algumas partes do relatório que entraram em áreas sob investigação policial seriam removidas, potencialmente atrasando sua publicação. Mas a mídia britânica então informou que a polícia não achava que o documento prejudicaria seu trabalho, provocando especulações de que ainda seria publicado esta semana.

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Então, na quinta-feira, Downing Street informou que as negociações estavam em andamento entre a equipe de Gray e a polícia sobre o que poderia ser incluído no relatório sem prejudicar as investigações policiais. Os críticos acusaram a polícia pela demora em abrir uma investigação. 

“Indiscutivelmente, tudo isso teria sido evitado se a polícia tivesse feito a coisa sensata e começado a investigar em dezembro, quando as alegações surgiram”, escreveu no Twitter o advogado Adam Wagner, especialista nas regras do coronavírus. “Agora estamos no limbo da responsabilidade pública e há uma dinâmica confusa entre o relatório interno da Gray e a investigação policial.” / NYT e AFP

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