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Polícia expulsa imigrantes de escola ocupada em Paris

Organizações de direitos humanos denunciam uso da força pelo Ministério do Interior; clima é tenso na capital entre policiais e movimentos sociais

Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

PARIS - A polícia da França e manifestantes entraram mais uma vez em confronto nesta quarta-feira, 4, em Paris, durante a desocupação de uma escola em obras invadida por cerca de 280 imigrantes em situação irregular. A ordem de despejo foi dada pela Justiça, mas desde cedo um cordão de isolamento foi formado por militantes de organizações não governamentais ligadas à defesa dos direitos humanos. Foi a segunda expulsão de um acampamento de imigrantes nessa semana.

A desocupação do Liceu Jean-Jaurès, situado no 19º distrito de Paris, uma região de baixa renda, vinha sendo planejada pela polícia desde a sexta-feira, quando o Tribunal Administrativo deu um ultimato de 72 horas para que os imigrantes deixassem o prédio. A escola estava desocupada para reformas, mas voltará a funcionar no segundo semestre. Nesta quarta, por volta das 6h um comboio de caminhões da polícia chegou à região, mas encontrou um cordão de isolamento de manifestantes contrários à expulsão. 

Militantes de organizações não governamentais ligadas à defesa dos direitos humanos tentam impedir que polícia retire imigrantes de escola ocupada em Paris Foto: AFP PHOTO / GEOFFROY VAN DER HASSELT

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Uma hora depois, as tropas de choque iniciaram a dispersão dos manifestantes usando gás lacrimogênio sobre os que se concentravam na Avenida Simon Bolívar, impedindo a entrada dos policiais. No interior do prédio, os imigrantes resistiam às ordens para que deixassem a escola, com medo de serem expulsos da França em direção à Itália ou à Hungria, países em que transitaram. Pela Regra de Dublin, da União Europeia, pedidos de asilo ou refúgio devem ser registrados no primeiro país em que tiveram contato com as autoridades do bloco.

Às 9h, uma nova investida das forças de ordem encerrou a expulsão. Aos gritos, alguns imigrantes - inclusive mulheres - tentaram resistir, mas foram arrastados e obrigados a deixar o prédio. Segundo a Chefia da Polícia, 277 pessoas foram retiradas da escola, e um total de 203 terão sua "situação administrativa" analisada e correm o risco de expulsão do país por falta de documentos legais. Outros 74, dentre os quais 20 mulheres e seis crianças, foram conduzidos a um centro de acolhimento e terão os pedidos de asilo ou refúgio considerados, informou o órgão.

A desocupação do Liceu Jean-Jaurès foi a 20ª retirada de imigrantes em Paris desde junho e o terceiro choque entre a polícia e manifestantes na capital na última semana. A situação é tensa entre as forças de ordem e militantes de direitos humanos na França. Como pano de fundo, há uma estratégia de ONGs e coletivos de esquerda radical para pressionar o governo de François Hollande pelo acolhimento de imigrantes. Grupos de apoio têm usado ocupações e acampamentos de rua como instrumento de luta e estratégia política.

Outro foco de conflito tem sido o movimento de esquerda radical Nuit Debout, que a exemplo do movimento espanhol "Indignados" vem ocupando uma praça pública na em Paris desde 29 de fevereiro.

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